Autoria: João Emiliano Martins Neto
Ontem eu conversava com um rapaz sedevacantista, logo, alguém dos mais rígidos dos rígidos e incompreensivos do estágio em que chegou o homem nos dias atuais modernos ou contemporâneos ao ponto de ser alguém que separou-se da comunhão e paz com a Sé apostólica, a Sé de Pedro dos últimos 63 anos desde a morte do Santo Padre, o Papa Pio XII. E como não poderia deixar de ser causou espécie a ele a minha atitude confessional de confessar-lhe pecados meus contra o sexto mandamento como o fato de eu ter as vezes caído no pecado da homossexualidade.
Ele dizia que certos pecados não devem ser nem nominados, São Paulo dizia o mesmo, em seu tempo longínquo em que ele viveu, mas em que tempo nós vivemos e tempo no qual a Igreja Católica Santíssima quis aggiornar-se, fez o aggiornamento, estamos no tempo do aggiornamento, tempo de atualização da Igreja? Vivemos na era moderna ou contemporânea em que o homem quer ser Deus, quer ter o domínio total, quer a maioridade, quer dar-se conta de que está nu, tal qual uma criança, Adão e Eva aperceberam-se nus ao tornarem-se como Deus no Éden e vestiram-se.
O homem quer vestir-se, quer trajar-se com a cultura de sua própria humanidade, então, com as reformas ocorridas no Sagrado Sínodo Vaticano II (1962-1965), a Santa Igreja como o bom samaritano não quis, nas palavras do Santo Padre São Paulo VI ao encerrar o Concílio, condenar, contudo, quis socorrer o homem como o bom samaritano (São Lucas 10, 25-37) que viu o pobre homem, figura do homem moderno, caído à beira do caminho enquanto os nominalmente mais fiéis à religião da época como seria o sedevacantista hoje em questão não viram tal homem caído como o seu próximo, disse o próprio Jesus, mas o condenaram à destruição simplesmente passando ao largo, mantendo distância, sendo indiferentes.
Há uma rigidez, uma dureza e uma incompreensão em quem é mais tradicionalista na Santa Igreja e segundo o que eu pude perceber do rapaz sedevacantista, ele um campeão em considerar a Sagrada Tradição ao ponto de não aceitar o que os sagrados pastores dos últimos 63 anos tem a dizer dela, interpretá-la e custodiá-la, pois eles seriam traidores, o que eu pude perceber e, se ele estiver certo, a Santa Igreja de outrora, talvez ele esteja exagerando, em outrora a Santa Igreja com relação aos pecados contra o sexto mandamento parecia aos olhos do homem moderno ou contemporâneo atual dominada pela vergonha por não querer sequer nominar, dizia São Paulo, certas modalidades anormais e contra a natureza do pecado contra o sexto mandamento como a masturbação ou a homossexualidade. Segue-se que o homem católico de outrora era mais refém de certos fatos corriqueiros da vida como a masturbação e a homossexualidade por não querer nem ao menos referi-los em nome de um extremo pudor.
A vergonha tomava conta, dominava e com isso o voto de ignorância e de estar-se nas trevas parecia dominar o homem de muito tempo atrás, cujo porta-voz é o rapaz sedevacante com o qual eu dialogava ontem. Ora, nada repugna mais ao homem moderno ou talvez a vocação própria do homem que deseja sempre saber, nada repugna mais ao homem desde a época do surgimento da Filosofia, apanágio do ocidente sempre progressista, que separou o homem das construções míticas e das tradições, nada repugna mais do que não poder apreender, tomar em suas mãos o real, através do conceito que é a atividade propriamente filosófica e posteriormente científica e que é a marca da modernidade ao ponto do domínio total do homem sobre o mundo infelizmente na modernidade sem mais dispor-se a interpretá-lo, compreendê-lo de forma objetiva, contudo, tem o homem o ímpeto de transformar o mundo.
O rapaz sedevacante extremista radical impressionou-me, percebi que naquela reposta dele em áudio pelo WhatsApp, algo tão contemporâneo, eu voltei no tempo talvez aos anos de 1910 ou de 1940. Ele, não sei se escudado por algum santo doutor em moral da Santa Igreja, culpando-me só a mim por meu pecado homossexual, entretanto, no meu caso pessoal houve no passado o meu problema de meu distúrbio mental, o transtorno bipolar, que influencia no aumento da prática sexual e como fica a ação do diabo sobre o homem para induzi-lo a pecar? Eu tenho uma inclinação, ainda que prudente, aos grupos tradicionalistas, tenho frequentado um deles em minha cidade de Belém do Pará, então, eu tendo a ter como autoridade o parecer de um sedevacante como o rapaz em questão, ele, contudo, talvez esteja errando pela própria dureza, não sei.
Uma coisa é certa, a Santa Igreja atualizou-se, aggiornou-se, ou deveria ter simplesmente abarcado e ido além, transcendido a modernidade, a época em que vivemos, conforme ensina o competentíssimo filósofo Olavo de Carvalho, pois a Igreja é a presença do eterno no tempo. E tal modernização da Igreja Santa de Cristo foi um gesto de pôr-se mesmo na pele do homem de nosso tempo e com ele a própria Igreja acabou ferida no meio do caminho, a veste branca dos papas pós-conciliares sujou-se ao aproximar-se compreensivamente dos descaminhos do pobre homem moderno ou contemporâneo. De todo o jeito eu percebo que a Igreja ganhou em ver tal homem como seu próximo, tal qual o bom samaritano, enquanto os outros rígidos e duros e incompreensivos são apenas marcados pela indiferença ao seu próprio próximo que não seja por definição algum semelhante santarrão como eles, não sabendo eles, por conseguinte, nada do amor que abrange o amor ao próximo o qual estão vendo caído no meio do caminho, então, como podem dizer que amam a Deus o qual não veem, pergunta o Apóstolo (1 São João 4, 20)?
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