Autoria: João Emiliano Martins Neto
Na parte oeste do mundo, a parte mais interessante e criativa do mundo, o que se tornou um grave problema do mundo, mas necessário, aqui no ocidente, o problema é que o eu ergueu-se. O homem que não mais quis ser como uma mera peça de uma engrenagem ergueu-se duvidando de tudo, acerca da existência de tudo, e encontrou-se em si mesmo, enquanto dubitante, encontrou algo de certeza, a certeza de que existe, porque pensa, porque move-se ao encontro do entendimento via a dúvida. Bom, isso já é o caráter do homem livre e consciente, crítico e cético bem formulado por René Descartes no século XVII, mas já presente em Sócrates, apesar dele ter cedido a sua consciência individual como parte da engrenagem que era a pólis ateniense. Séculos mais tarde e influenciado pelo judaísmo liberal e reformado que é o cristianismo, onde a relação da consciência individual, do eu, com a consciência suprema divina dá-se intimamente na fé e não por meio de instituições de pedra e leis também gravadas em pedra, e com o cristianismo já bem estabelecido e amadurecido no mundo o eu emergira no que poderia-se dizer que é o princípio do novo tempo em que logo antes de Descartes o grave problema do mundo que é o homem e sua dignidade, tal homem livre e consciente, crítico e cético emergiu de uma vez por todas em Martinho Lutero, o líder da Reforma Protestante do século XVI. Lutero questionou não sem grande conflito, eis uma prova do problema do mundo que é o homem consciente, a autoridade da Igreja Católica, a que é considerada a Igreja do próprio Deus Jesus Cristo, instituída por ele. Lutero questionou e em seu projeto reformista quis uma mudança, segundo o seu gênio e criatividade movido outrossim por uma tal instituição corroída pela corrupção de almas vendidas por cargos eclesiásticos e vendidas aos poderes deste mundo que esmagavam o povo, o qual somente com um Thomas Müntzer, o teólogo revolucionário, encontrou eco de seu sofrimento e lágrimas que explodiram nos mil anos de lusco-fusco medieval religioso em graves jacqueries, as revoltas camponesas. Contudo, apesar do pensamento burguês, porque alinhado com os poderes deste mundo que livraram Lutero da fogueira, de que forma em Lutero não duvidar do poderio de uma instituição eclesiástica como a Igreja Católica ainda muito parecida com a institucionalidade ou engrenagem judaica e imperial do mundo como um todo antes da emergência do eu? Como não duvidar mesmo que da própria Igreja de Cristo e com tanta poeira antiga imperial, fazendo a si próprio, o homem só consciente, nos novos tempos de emergência de uma consciência crítica, inteligente e cética, o seu eu a única instituição firme, legítima, porque pelo menos é livre para pensar?
O homem livre, crítico e cético do século XVI aos nossos dias seguiu a sua marcha passando, sendo problema do mundo e problematizando o mundo tal qual antes eu dizia de Sócrates que fora acusado de impiedade, de que não cultuava os deuses do Estado. O problema da emergência do eu causou guerras de religiões todas elas causadas pela outrora engrenagem hegemônica que era a Igreja Católica, alcançou-se a Paz de Westfália que sacramentou a liberdade de consciência religiosa contra a hipocrisia dos fanáticos que queriam impor catolicismo ou protestantismo ao homem que reflete. Em seguida tal homem livre que reflete passou por cima de reis cortando-lhes as cabeças na Revolução Francesa de 1789 e até o começo do século XX destronou os últimos reis que restavam com suas tiranias, porque monarquias são tentadas à tirania se o rei não for bom não sendo possível como nas repúblicas a alternância de poder depois de uns poucos anos ou a saída através de um processo de impeachment. Ainda no começo do século XX depois de séculos em que as classes militantes operárias que sempre viveram esmagadas sob as botas dos poderosos finalmente chegaram ao poder na Revolução Russa de 1917, assim conforme o intuito de Karl Marx, o pai do socialismo científico, tornar a democracia liberal que é meramente formal em democracia social e participativa com os trabalhadores podendo administrar a riqueza que produzem com suor e trabalho duro tendo em sua utopia comunista de cada um conforme a sua capacidade e dando a cada um conforme a sua necessidade.
O projeto soviético bolchevique da Revolução Russa pode até ter chegado ao fim no ano de 1991, após em 1989 o Muro de Berlim ter ruído, somadas às mentiras contadas por nazistas e pela burguesia mundial ao longo de décadas e até hoje contra a União Soviética, contudo, o sonho de uma sociedade solidária que vemos na própria proposta de sociedade cristã que é um comunismo cristão em Atos dos Apóstolos 2, 44, 45; 4, 32-37 marcou fortemente o mundo com Cuba socialista concedendo um dos melhores tratamentos em saúde do mundo, erradicando na ilha caribenha o analfabetismo e na própria Venezuela autoritária de hoje um Hugo Chávez ter preferido tratar-se em seu país do câncer que o levou à morte. Condições justas em uma sociedade solidária é materialismo? Então chamem os santos apóstolos e os primeiros cristãos de materialistas, porque muito mais materialistas pelo egoísmo, autoritarismo e solidão crassa são os capitalistas da ganância por acumulação do capital e lucro que hoje no governo de um genocida como Jair Messias Bolsonaro obriga o povo brasileiro a trabalhar em plena pandemia do novo coronavírus tendo por efeito colateral a morte por asfixia de mais de 250 mil brasileiros.
Dizem que a esquerda e os socialistas comunistas querem dissolver em um maquinário coletivista o indivíduo, o tal gerador de problemas do mundo, o homem com o seu eu, mas e se tal eu encontrou na esquerda a consciência de si em outros eus livres, céticos, conscientes e pensantes, no Partido, uma confraria de seres inteligentes? Eu acho que foi isso o que ocorreu. Por que? Porque a esquerda é a vanguarda do novo e da mudança, é a profetisa do futuro, é o instrumento político da modernidade do eu que vem romper com o que é mera tradição ou o que é recebido do passado de forma acrítica.
Hoje a revolução, a dor de cabeça ou problema necessária do mundo, é a emergência do eu consciente e crítico em relação aos dos costumes e ao corpo, é a revolução de gênero tendo por proto revolução atual a revolução homossexual. Os problemas do mundo gerado pelo eu, pelo homem consciente de sua dignidade não quer ser por último a peça da engrenagem que lhes pretende moldar o corpo, a identidade e o afeto, enfim, o amor e só ama quem é livre. Não estou querendo dizer com isso que o desafio à ordem natural e biológica outorgada por gays e transgêneros seja algo sensato, todavia, se a questão deste meu artigo é destacar a necessidade de um problema do mundo na pessoa do homem com o seu eu consciente, gays e transgêneros põem em marcha brilhantemente o pensamento, a inteligência, a crítica e a consciência contra toda hipocrisia e casmurrice de pessoas que se não pecam muitas vezes como os gays e transgêneros, porém, os mais fanáticos e hipócritas de vez em quando relacionam-se sexualmente com eles nas caladas das noites, ou pelo menos pagam prostitutas fingindo-se de dia de propugnadores da castidade e da pureza.
Os problemas do mundo são gerados pelo homem, porque o homem é um ser potencialmente inteligente e deve buscar a consciência de si e a consciência do mundo que em si mesmo, nas massas de gente: os povos, não os coletivos conscientes dos partidos de esquerda, e nem muito menos nos seres inferiores não tem consciência nenhuma. O mundo é o mundo dos homens despertos.
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