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sexta-feira, 12 de março de 2021

O vulcão e o cego

Autoria: João Emiliano Martins Neto


Há um vulcão adormecido em toda esta questão política em que vive o Brasil, que em seguida falarei. Bem mostra o grande filósofo Paulo Ghiraldelli Júnior, que a questão política hodierna brasileira seria de uma falsa polarização entre uma direita e esquerda, porque na verdade somente os ricos ou super ricos é que vem ganhando há pelo menos mais de uma década, desde o governo Lula e hoje mais ainda com o governo Bolsonaro, com a não regulação do mercado financeiro e com isso a agiotagem oficial do bancos que lucram com os juros causam o empobrecimento da nação brasileira pela desindustrialização. Mas, o tal vulcão é a perda da fé cristã no afastamento das pessoas da Igreja Católica indo ingressar nas igrejas evangélicas cuja ideia de cristianismo é monstruosa ao acharem, isto desde Martinho Lutero, que a mera inclinação para o pecado já é pecado.


Tal vulcão, hoje adormecido, cuja lava em seu núcleo radica-se no ódio a Deus como se Deus fosse mal e também capaz de qualquer loucura e só restaria com tudo isso a fé, sola fide e uma sola fide incurável, pois nem mesmo o solus Christus protestante poderia sanar, visto que se o Cristo é Deus, logo, Ele é tão capaz do mal quanto o Pai e o Espírito Santo. A fé em sua solidão e em seu exclusivismo parece evidente que é a fé na fé ou a fé reflexiva: antropocêntrica de Lutero para que o homem pudesse fazer frente a um tal Deus capaz de chamar o mal de bem e vice-versa, o que separa para sempre a fé da razão, a Teologia da Filosofia. Esta lava deste vulcão é constituída da raiz de amargura que há no homem que adere à tal decadência histórica da humanidade, que adere às ideias protestantes e com isso a um itinerário moderno de descolamento do homem, depois com René Descartes chamado de eu, em relação ao mundo pensando-se que o homem, o eu, não fosse parte do mundo, um mundo onde bem e mal não são substanciais. Contudo, é evidente que eu entendo que o eu pensante que é alguma coisa que pensa, res cogitans, por ser consciente tem uma nobreza maior como existente do que os seres inanimados ou animados, mas irracionais e inferiores. Porém, tais coisas, o mundo, enfim, existe, sim.

 

O não entendimento de que o homem é capaz de Deus, é capaz de pensar e refletir sobre Deus, o Deus sob a névoa de maldade que Lutero tinha em mente, começa daí um acúmulo de ódio à verdade e à sabedoria, o desprezo ao mundo das ideias que possibilita o conhecimento das coisas singulares, passageiras e sensíveis deste mundo, que é o núcleo que ninguém toca em meio aos debates políticos da atualidade brasileira que é herdeira das mudanças liberais, modernas, protestantes e socialistas da Europa.


Nisso tudo, em tal voragem há o cego, o cego é o cristão, é a Igreja Católica e as demais igrejas cristãs ocidentais: protestantes que esqueceram-se do mundo de irmãos sem fronteiras de nações, raças e culturas ou gênero, o mundo da partilha, o mundo comunista cristão que com toda a força do que é evidente os primeiros cristãos ao lado dos apóstolos viviam, onde, como queria o materialista e apóstata Karl Marx, de cada um conforme a sua capacidade e a cada um conforme a sua necessidade. O cego quando leu a Bíblia Sagrada ao longo de mais de dois milênios de cristianismo ao ler o Livro esqueceu-se de tal mundo de irmãos e apegou-se à hierarquia eclesiástica pela hierarquia sem atinar que o próprio Papa, o topo de tal hierarquia, é o Servo dos servos de Deus. O cego preferiu a simonia e preferiu a tibieza, a mornidão, e largou pelo menos um milênio de influência cristã no mundo o povo na mais crassa miséria, exposto à fome, às epidemias e ao desleixo pastoral que culminou com a Reforma Protestante por meio de um monge perturbado, Martinho Lutero, aterrorizado por uma religião cruel cujo monarca e rei, Deus, seria um tirano severo e não um Salvador.


Séculos de opressão sobre o povo, até hoje, mas na Idade Média que explodiam em jacqueries, as revoltas camponesas, e a miséria sendo idealizada pelo cego que não conseguia ler Atos dos apóstolos 2, 44, 45; 4, 32-37, onde está exposto o programa social, político e econômico cristão, o comunismo cristão, o cego foi  contribuindo para o vulcão hoje adormecido no Brasil e digo adormecido, ainda, porque falta para que ele acorde que os protestantes se deem conta do erro em que labutam, erro de relativismo, fruto de sua heresia, e que também chama o Cristo de mentiroso, porque se a Igreja Católica falhou tal qual querem os protestantes, por conseguinte as portas do inferno teriam prevalecido contra a Igreja para eles fundarem as suas seitas. Resta, claro, que Jesus era um falsário e todo protestante é lá no fundo um liberal, um apóstata.


Eis, por fim, um debate interessante a se fazer observando a questão da que seria a verdadeira religião, católica romana, se Jesus Cristo não mentiu ou se enganou e se a fé não deve divorciar-se da razão, e a cegueira e omissão de todos os cristãos diante da necessidade de justiça social e igualdade se queremos um mundo de irmãos e se almejamos um debate político interessante e fecundo sobre as bases de nossa civilização, a fim de extinguir de vez este vulcão e curar a cegueira.

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