Deus dos humildes e dos enganados

Autoria: João Emiliano Martins Neto

 

Primeira-dama Michelle Bolsonaro comemorando a vitória de André Mendonça ao STF com sua família. Fotografia: Instragam de Michelle Bolsonaro/Folha de S.Paulo

Na última semana que marcou a admissão para o Supremo Tribunal Federal (STF) de André Mendonça, o ex-advogado geral da União e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, ganhou destaque a comemoração efusiva alegadamente espiritual, até mesmo pretensamente falando nas "línguas estranhas" de Michelle Bolsonaro por essa admissão de um novo ministro supostamente "terrivelmente evangélico", conforme queria Jair Messias Bolsonaro.

A plena posse do mundo, céu e terra, pertence só a Deus que o criou. Só Deus sabe todas as coisas e algo dele, algo de verdade, sabedoria, luz, bem e amor, Ele imprimiu a tudo o que há, por isso, aqueles que O seguem de coração, em espírito e em verdade, os humildes, podem enganar-se com algumas de suas criaturas, mormente os homens com sua astúcia. No caso de Michelle Bolsonaro eu não duvidaria de sua sinceridade religiosa pelo que eu vi em vídeo nas redes sociais online a sua comemoração da vitória de Mendonça, uma comemoração ao que pareceu-me, infantil, cândida, ainda que ela viva no engano evangélico protestante que é uma grave heresia e muito mais diante de um André Mendonça que em sua sabatina no Senado Federal onde ele disse que apoiaria uma constituição como a do Brasil, a Carta Magna de 1988, que é além de ser a apoteose do estatismo idólatra, caso a mesma como um novo Decálogo, só que laico, apoiasse o chamado casamento gay, ele estaria do lado de tal Carta. Ou seja, em frontal embate contra o que ensina o que seja um cristianismo conservador, clássico, minimamente reconhecível ao longo destes mais de dois mil anos de religião cristã no mundo, que seria o correto e ortodoxo e certamente é o seguido por Michelle. Mendonça não é nada cristão, pelo menos no sentido mais usual da palavra, ao que aparenta seria um aventureiro e oportunista que coloca acima de tudo leis feitas por homens falhos para conseguir apoio de senadores venais.

Deus parece ser Deus dos humildes e dos enganados, Michelle talvez ouviu mal as palavras astutas, enganadoras de Mendonça. Ele é mais um aventureiro na Suprema Corte e eu não duvido do que seria um dom de línguas em Michelle, pois que lendo um pouco sobre o assunto no site do jornal Folha de S.Paulo, o que disse o deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) para justificar a primeira-dama atacada por críticos da roda dos escarnecedores anticristãos, disse o deputado: "Aquele que fala línguas fala com Deus, mas não com os outros, visto que os outros não poderão entendê-lo. É verdade que poderá estar a falar pelo poder do Espírito, mas será como algo misterioso". Ou seja, ele parafraseou o que escreveu o santo apóstolo São Paulo e fez-me lembrar o que eu aprendi quando frequentei igrejas pentecostais. Disse o santo em carta à igreja grega de Corinto: 

 

"Empenhai-vos em procurar a caridade. Aspirai igualmente aos dons espirituais, mas sobretudo ao de profecia. Aquele que fala em línguas não fala aos homens, senão a Deus: ninguém o entende, pois fala coisas misteriosas, sob a ação do Espírito." (1 Coríntios 14, 1, 2)

 

É evidente que eu como católico romano não posso confiar à maneira dos hereges no que eu mesmo lendo da Escritura possa concluir sozinho, individualmente, atomizado e pulverizado quase na qualidade de um novo Papa ou chefe de seita protestante como se o que exista dependa da tirania do meu pensamento e da minha consciência, que é o que quer a filosofia moderna herdeira da revolta protestante em René Descartes ou em Edmund Husserl. Não posso ser um novo oráculo de Delfos dando por meu eu sozinho um sentido exato ao texto sagrado, isso cabe ao Santo Padre, o Papa, que é quem tem luzes para tal. Mas, parece-me fortemente ser o caso de Michelle, eu acho que ela é inocente, humilde e também enganada pelo ex-AGU e ex-ministro, entrementes, talvez ela possa ter falado em línguas, sim, segundo o que seja língua estranha, a linguagem do mistério que os homens não podem compreender, apesar dela estar no pecado de ser herege protestante, além de ser no mínimo cúmplice por ser casada ou amante, em uma união ilegítima com um homem que é Jair Bolsonaro que já é casado, ela sendo primeira-dama de um miliciano, genocida que deixou morrer várias centenas de milhares de seus próprios compatriotas brasileiros vitimados de Covid-19 e que não sabe Bolsonaro administrar a economia brasileira deixando milhões sem emprego e passando fome tal qual é o caso de Bolsonaro que é casado com ela.

 

A princípio eu far-lo-ia um artigo fazendo uma crítica estética, no entanto, também ética ao que seria uma comemoração pitoresca ou também grotesca de Michelle Bolsonaro à vitória do ex-AGU e ex-ministro André Mendonça à uma vaga de ministro de nossa Suprema Corte. Entretanto, tudo bem, pareceu-me ao ler a notícia na Folha de S.Paulo que destoa do tom sensacionalista de youtubers sobre tal assunto que pelo jeito a primeira-dama do Brasil eu acho que ela foi sincera e ao que parece as tais línguas em um certo sentido não são compreendidas pelos homens, não sendo sempre línguas com uma estrutura racional comum às línguas do mundo, porém, supranacional, que seria a linguagem do mistério, algo que pode-se depreender enquanto segundo uma vista d'olhos leiga na Bíblia Sagrada, segundo o que escreveu o glorioso São Paulo.