Uma redefinição do ser humano começa por uma crítica, atividade tão cara ao filósofo, da atividade mesma que é a Filosofia que torna o homem como homem, isto é, filósofo, segundo o filósofo Éric Weil, em sua majestosa magnum opus, "Lógica da Filosofia". A Filosofia precisa ser revista quanto aos seus cânones e instituição que tem sido à de uma figura que eu considero monstruosa não só na face, pois ele era feio, mas também n'alma, falo de Sócrates. Monstrum in fronte, monstrum in anima, como diz o brocardo latino, isto é, feio na cara, feio n'alma, assim era Sócrates. Ele que é o patrono da Filosofia no Ocidente, desviou a Filosofia de sua temática cosmológica de outrora, a dos pré-socráticos, um deles foi um seu contemporâneo e de Platão, Demócrito de Abdera, os quais eram os filósofos ditos físicos, segundo Aristóteles, os fisiologoi, estudavam a natureza. Nos pré-socráticos víamos a unidade entre pensamento e vida. Ora, tal abordagem, a do céu, como dizia Sócrates, não era para o feioso interessante, mas ele queria concentra-se no animal doente que é o homem. O homem que viaja na maionese, que pensa demais e vive de menos, o homem que acha que pelo pensamento consegue dar conta da tragédia e surpresa e casualidade que é o mundo. Então, Sócrates, zanzando por Atenas, querendo que Atenas inteira fosse uma escola filosófica para pensar o homem, foi pelo homem, seus próprios compatriotas atenienses destruído.
Veio Platão com sua Academia e deu um verniz metafísico, mais suportável e restrito à uma confraria à Filosofia, foi poupado pelo mundo. No final, o mundo não foi poupado de Platão que radicalmente desvinculou o mundo, a vida, do pensamento, Aristóteles não ousou afrontar radicalmente o mestre, ele mesmo dizia-se um platônico. Veio a Idade Média e para que o pensamento de um judeu, Jesus Cristo, um homem pertencente a um povo como o hebreu que conseguiu caluniar o mundo, a vida como ela é como algo mau, como o rico usurário para o judeu é alguém outrossim maligno, sugiram escolas como a Patrística e a Escolástica. Eis a institucionalização e canonização do que se conhece como Filosofia no Ocidente. Os perdedores, os materialistas e atomistas como Demócrito, Leucipo, Lucrécio ou Epicuro e os cínicos como Diógenes de Sinope foram proscritos, considerados malditos por mostrarem o mundo como é, por unirem pensamento e vida que ciências modernas como a Neurociência bem demonstram ao provarem que uma pessoa com traumas cranio-encefálicos mudam radicalmente de personalidade e caráter, não deixando oportunidade para uma fantasmagórica alma ou espírito, isto é, eis a destruição da metafísica.
No século XVIII o pensamento proscrito com o Iluminismo tentou voltar com os ultra das Luzes mesmo assim proscritos pelo idealismo de Jean-Jacques Rousseau ou Karl Marx, pois o ideal é forte, mas ainda assim é a carne é mais forte ainda e os regimes da pseudo-revolução socialista-comunista ruíram. Resta-nos, hoje, tentarmos recuperar a atitude de reavaliação e de crítica das noções consagradas da Filosofia e fazer uma arqueologia da arqueologia do pensamento humano, em sua episteme, como diz Michel Foucault e tentar vencer a tentação de tornar a Filosofia como se fosse Religião e a confraria dos filósofos como se fosse um convento de monges.
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