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quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Espelho da alma, o mirar e o mirar-se diante de tal espelho

Autoria: João Emiliano Martins Neto

 


Resumo: Reflito aqui sobre a ideia as vezes muito criticada que é a ideia de especulação, que é de ver como a um espelho, ao espelho da alma, o que há no mundo e também o homem a ele mesmo.


A palavra especulação, tão criticada pelos tais devotos dos fatos, vem da palavra latina speculum que quer dizer espelho. Ora, especular quer dizer mirar algo, como a si mesmo, ao espelho, ao espelho da alma ou da mente. Os devotos dos fatos costumam diminuir quem fica especulando até mesmo como se estivessem apenas a maldizer a alguém. Isso ocorre, por exemplo, neste caso das denúncias de que dom Alberto Taveira Corrêa, o meu arcebispo da arquidiocese de minha cidade de Belém, a capital do Estado do Pará, de que ele estaria envolvido em abusos sexuais contra menores de idade e seminaristas, acusado que ele foi por seminaristas e por padres. Bom, veremos e muito, eu mesmo tenho feito isso em conversas com pessoas e nas redes sociais, as pessoas usarem algo do tipo da imaginação, das deduções e de analogias para por algo diante do espelho da mente. Os tais fatos evidentemente que passam por esse processo de especulação, mas é claro que radicam-se em alguma prova de algo que de fato aconteceu, o fato sonante, bruto, nu e cru, pois o mesmo existe, sim, para muito além da doutrinação que encerra a muitos em ideias fechadas, isto é, as ideologias ou nas modernas análises de textos e de textos entre si sem uma referência ao mundo em si mesmo. E também segundo a teoria antiga e celebrada da reminiscência que parece evidente, não só na época de Sócrates quando ele dialogou ao lado de um pobre escravo, Mênon, e o fez dissertar sobre assuntos complexos de matemática, parece evidente a teoria da reminiscência, pois, para a alma, o homem especular, porque segundo essa teoria, bem provada em Mênon, antes de vir a este mundo a alma humana fora formada pela realidade do bem, da verdade e da beleza que o homem com o speculum de sua alma ou mente são parte e que as circunstâncias deste mundo fazem recordar essa realidade. O processo contra dom Alberto corre em segredo de Justiça e as autoridades romanas da Santa Sé também não abrem o jogo. Então, cabe a cada um mirar e mirar-se, se for alguém sincero, ao espelho da mente para orientar-se em uma situação onde se ignoram muitos fatos e ficam-se só com teorias da conspiração a exemplo de que a ala mais à esquerda da Santa Igreja estaria caluniando o arcebispo em questão por ele supostamente ser conservador, coisa que ele não é, e teorias da conspiração demonizando a esquerda como sendo a pior coisa do universo abundam no mundo de hoje dominado pelo fascismo.

 

Dom Alberto Taveira Corrêa

Mirar-se diante do espelho. Ora, eu mesmo costumo dizer publicamente que eu tentei ser padre, entretanto, logo na primeiríssima entrevista ao padre reitor do Seminário de minha arquidiocese eu fui rejeitado como um candidato para ingressar em tal Seminário. Por que? Porque perguntado sobre a minha vida afetiva, se eu já tinha tido namoradas, eu disse simplesmente a verdade para o padre, graças a Deus eu fui sincero, eu disse-lhe que eu sou homossexual, então, fui rechaçado. Tudo bem, continuamos amigos, eu continuo sendo católico e católico praticante, graças a Deus, mesmo que rejeitado para as sagradas ordens, graças a Deus não vendo a minha alma por cargos em lugar nenhum. Mas, eu disse a verdade, pois mentira tem perna curta e um dia, conforme disse o Cristo que não há nada oculto que não venha a ser revelado (São Mateus 4, 22), descobre-se a verdade nem que o mentiroso já esteja velho e em um alto cargo que é o que, se tudo se confirmar, parece ser o caso de dom Alberto que já velho está sendo acusado de praticar a boa e velha brotheragem. Quando expulsa-se a verdade pela porta, ela volta pela janela. Vejam, caros leitores, o mirar-se ao espelho, a fim de algo saber da verdade, ora, se talvez dom Alberto, que hoje no fim da vida ele é acusado de uma conduta sexual considerada infamante, se ele tivesse se visto com atenção diante do speculum de sua alma e tivesse dito a simples verdade ao padre que desde a primeira vez o entrevistou no Seminário da diocese dele, um discernimento teria sido feito de que talvez não fosse adequado o sacerdócio para alguém com a complicada tendência homossexual, tendência homossexual que por acaso não resultou até hoje em santidade na Santa Igreja, não que eu saiba, em ninguém que tenha passado por tais tentações, as tentações homossexuais e tenha-as vencido, eu não conheço santo católico gay. Se bem que há décadas atrás a questão homossexual, em um certo sentido, não era exatamente um grande problema para a Igreja Católica e nem muito menos há muito mais tempo atrás e por que? Porque, eu vejo assim, não havia a questão de uma cultura e movimento político gay no mundo que desafiasse politicamente, o que é temível, a própria Igreja Católica, era apenas uma questão de pobres almas individuais com um abacaxi violento para descascar.

 

Por exemplo, podemos imaginar, deduzir e fazer uso de analogias de que o poder é algo sedutor e corrompe os mais fracos e é muito usado pelos mais frios. Eu já soube, para corroborar com um fato, que diante de tal caso de acusações contra o meu arcebispo, que ele teria sido sugerido que renunciasse o arcebispado, dom Alberto teria dito que só morto sairia de tal cargo. Então, primeiramente diante de algo como o poder, partiu-se, não sem antes da experiência do perigo que é a dominação ou o poder, mas também do fato noticiado do que teria dito tal coisa o prelado em questão e também, é claro, consoante a própria experiência do poder no mundo nas muitas vezes miseráveis vidas dos políticos, reis e governantes. Na verdade, finalmente, tanto a imaginação, quanto a dedução ou analogia e os fatos evidentemente que devem todos passar pelo speculum da mente e constituem esse espelhar. A analogia no speculum da mente ou da alma pode dar-se com seu jogo de semelhanças e dessemelhanças de alguma coisa em relação à outra coisa, por exemplo, no caso do sexo, e mais, no caso de alguém que detém um cargo de chefia, dom Alberto, em que há o domínio na mente de alguns para possuir alguém e o sexo propicia a dominação pelo domínio carnal de um outro alguém e em situação de grande desvantagem se for um menor de idade, um vulnerável, se for o caso da relação hierárquica no trabalho, nas forças armadas de um país ou nas religiões ou até mesmo porque a vítima é uma criança e que se tal pessoa não ceder o superior a tal pessoa o punirá de alguma forma, por exemplo, com a perda de uma promoção, aprovação ou mesmo a incompreensão dos seus pares inferiores por estar difamando, se ela denunciar o agressor, aquele superior querido pela comunidade. A analogia do sexo com poder é impressionante e muito visível no espelho da alma.


Especular é preciso, não vejo porque envergonhar-se disso, os próprios fatos devem ser mirados no speculum da mente e interpretados sem preconceitos. E eu diria que nesse caso de corrupção do clero romano, mas também poderia ser a corrupção do clero protestante ou do clero de outra religião ou mesmo no trabalho, na família ou na convivência de vizinhos, enfim, em sociedade, é preciso mirar ao espelho questões de poder, ganância, vícios e mesmo virtudes, para, à maneira de um fio de Ariadne mirar ao espelho da alma não um labirinto onde se perca nele, mas por tais variáveis de misérias e coisas boas humanas, até que os fatos se deem, possa-se, por fim, saber qual seja a verdade.

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