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terça-feira, 13 de novembro de 2018

A fortaleza gay

Autoria: João Emiliano Martins Neto


Quero escrever sobre o que eu chamarei de fortaleza gay que é a capacidade das pessoas LGBT, as lésbicas, os gays, transgêneros e demais no mundo a viver o modo deles sui generis de afeto invertido nadando contra a maré, não no sentido necessariamente de querer destruir a preferência heteronormativa, se é que heteronormatividade ou heterossexualidade não é algo postiço como tudo o que é civilização é algo postiço para tornar esquisitão o bicho-homem como bicho-homem.

Mas, bom, civilizadamente o normal da maioria é a heterossexualidade, mas o homossexual faz aí a sua luta para viver como acha melhor que é a forma de afeto diferentona que eles conseguem ter da mesma forma que os gordinhos precisam encontrar números de roupas que caibam-lhes em seus corpanzis.

As grandes massas heterossexuais como manadas relinchantes à maneira de jumentos, como é regra em quem é conservador de direita ser jumento, porque muito preocupados em preservarem seus preconceitos, só admito um conservadorismo que dure no máximo uns cinco minutos depois é burrice. Tais manadas se deslocam pelo mundo aos berros, muitas vezes berros afetados diante de pobres homossexuais com porventura trejeitos afeminados ou masculinizados (o caso de lésbicas) espontâneos, tais massas ao relincharem sepultam de vez o que poderia haver nas mesmas de humanidade que é a espécie que filosofa, e no tempo tais manadas são sempre empacadas: cabeças duras em muitos casos durante uma vida inteira, tais massas vêem o espetáculo homossexual ou transgênero no mundo como piada, como algo horroroso, estrangeiro, ridículo, asqueroso para o gosto domado das mesmas, e como a obsessão que é própria deveras ao meio LGBT, porque os gays, lésbicas e congêneres precisam afirmar o sexo vivido de forma diferenciadamente invertida da parte deles para mostrarem mais facilmente que são algo como gays e semelhantes, de fato, no mundo. Então, muito bem, é compreensível que o gay precise com fortaleza ímpar adaptar-se à estrutura da coisa como ela é, pois gays ou transgêneros nasceram com um sexo definido biologicamente, mas o que eles pensam diferencia-se do dado real que são os seus corpos como eles são, ainda que no caso transgênero tal indivíduo faça cirurgias para extirpar a genitália externa, entretanto, como fazer um chamado homem trans, isto é, o homem que outrora era mulher, ter um filho ou uma mulher trans conceber? A direita burra que chama de ideologia a questão de gênero, ou seja, chama de mera propaganda para fins de tomada de poder o que o homem é enquanto homem, isto é, um bicho cultural que se recria, que se reinventa e no caso do sexo, ainda que sob bases biológicas como a fixidez do sexo, o homem não se apaixona por alguém em vista do cheiro que a vulva exala a fim de acasalar como fazem os outros animais, mas é preciso que o futuro parceiro faça-lhe o gênero que o atrai como o homem é másculo ou a mulher é feminina, o que inclui o uso de roupas determinadas, sensuais, decotes, minissaias, ou camisetas masculinas que realcem músculos ou mesmo roupas mais formais como paletós em homens ou trajes militares. Ora, caro leitor, você quer coisa mais cultural do que roupas, no caso humano, logo, algo nada simplesmente natural? O homem, como o conhecemos, não é nada ou bem pouco natural, todavia é muito mais cultural. Eu percebo que direita e esquerda usam para os seus próprios fins natureza e cultura conforme os seus interesses ideológicos, sendo que a direita pelo menos com vantagem para si, desde o Éden quando Deus cobriu com trajes de peles ao casal primordial quis para fins civilizacionais, com todas as neuroses da civilização, cobrir a nudez humana causada pelo pecado do bicho-homem para sempre apartado da natureza animal que o homem comunga com os demais animais e que o homem já não mais um animal comum, porque consciente, usaria do dado natural para fazer coisas que não convém à civilização em que se encontra como a prática do estupro ao ver uma fêmea humana desnuda. A direita propicia a ordem, ainda que com ideologias religiosas ou coisas do tipo, a esquerda estuda uma maneira de bagunçar o coreto e deve fazê-lo diante de puras ideologias como as religiosas se frágeis em si mesmas, mas sem fazer de conta que não pode haver na cidade dos homens, na comunidade humana algum consenso universal, um imperativo categórico, como queria Immanuel Kant que possa unir a todos.

A questão de gênero é bem outra coisa aqui neste artigo. Aqui importa como tal fortaleza gay dá-se e tal fortaleza mostra a resistência dos LGBT em querer viver a forma de afeto que lhes é própria mesmo que tão imprópria fisicamente como é o caso do coito anal que pode ser muito doloroso e pelo que sei absolutamente impróprio é o ânus para a penetração peniana. A verdade própria de um LGBT é sua luta, ainda que inglória para a civilização em seu estado de neurose bem instalada. São contra os moinhos de vento que os LGBT enfrentam, as intempéries metafísicas da solidão diante da união tácita de uma maioria heterossexual, conduzida como manadas por líderes obscurantistas fanáticos uns e oportunistas outros, na pátria deles que é este mundo e que a maioria hetero a povoa com seus descendentes frutos de suas sementes que caem nas terras férteis de suas parceiras de sexo distinto ao seu. É o homossexual chagado pela dor da incompreensão que muitas vezes vem dele próprio, porque o homossexual não vê-se claramente como mulher ou homem, no caso de gays ou lésbicas, respectivamente, ou seja, para desejarem o que desejam, porque se o homossexual deseja o mesmo sexo, é porque acha-se lá no fundo como alguém do sexo oposto ao seu o que se vê em seus trejeitos afeminados ou masculinizados, uma ferida do processo civilizatório, eu não teria dúvidas. Ora, espanta a um gay ou lésbica e a um transgênero a sugestão de relacionar-se com alguém de seu mesmo sexo, isto quando o transgênero não é um heterossexual, porque há meninas que viraram meninos trans, mas relacionam-se com homens cis, ou seja, homens verdadeiros, a coisa complica formidavelmente na questão transgênero... Espanta relacionar-se um gay ou lésbica, como eu dizia, relacionar-se com alguém afeminado ou masculinizado (no caso das lésbicas) ou relacionar-se com alguém do sexo oposto, pois ele mesmo bem no fundo de sua alma enxerga-se como do mesmo sexo que pretere e pratica sexo como gente do mesmo sexo, todavia, com os trejeitos que cultua, provando isto mesmo que eu estou a dizer de que lá no fundo o homossexual vê-se como alguém de sexo oposto ao seu biológico e eis que é isto mesmo o que choca as pessoas normais, as pessoas civilizadas heterossexuais, as quais em sua normalidade simplesmente sentem-se atraídas por gente de seu sexo oposto, com é de se biologicamente, pelo menos, esperar. Eis a dor que é mais uma forma da intempérie metafísica suportada pelo homossexual, mas que ele pode tomá-la como sua fortaleza se souber vencer tal dor e veneno que vencido o fortificará e engordará por tal incompreensão que pode ser a dos outros, entretanto, nunca a incompreensão sobre si mesmo.

Talvez eu tenha mais coisas para falar sobre uma fortaleza gay, por hora encerro por aqui, posso voltar a escrever mais artigos sobre tal fortaleza, pois eu mesmo tenho algum conhecimento sobre homossexualidade visto que sou egresso do meio homossexual. A fortaleza gay é bem o contrário de quem por até mesmo a fraqueza e o cansaço busca facilmente muletas metafísicas como na religião ou em ideologias políticas ou pseudocientíficas, mas para o homossexual perseverante muito acima das montanhas que precise escalar, o gostinho da vitória em uma bela trepada com o mais belo Adônis ou Vênus tem valido a pena e é sempre a aposta que muitos homossexuais ou LGBTs raramente tem desistido de fazer, vide a inexistência de santos católicos romanos, até aonde eu sei, que tenham um testemunho de renúncia ao bom esporte.

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