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domingo, 22 de maio de 2022

A caminho da sabedoria

Autoria: João Emiliano Martins Neto


Diotima de Mantinea


Ontem eu discutia com uma pessoa infelizmente incompreensiva, extremista religiosa anti-gay que por isso quer impor a pureza e a castidade absolutas já de cara para quem é homossexual e eu argumentava um caminho do meio, um mezzo-a-mezzo para quem é homossexual, também em nome da boa convivência em sociedade, que pelo menos o homossexual leve uma vida discreta, sem escândalos, sem se vestir como uma pessoa depravada, sem comportar-se como uma uma pessoa louca mesma, ridícula e inconveniente, no caso do homossexual masculino, que é o mais dado a tal comportamento histriônico. Que ele seja monogâmico, fiel ao seu parceiro, não promíscuo.


Não houve jeito, o sujeito quer mesmo impor uma regra absoluta de castidade e sem ponderação, sem o que seria um cumprimento racional de etapas rumo ao ideal sem dúvida alguma que muito desejável que é a castidade para o homem, não só ao homossexual. Eu discordo do fanático. Conforme ensinava os escolásticos, a moralidade, a consciência moral, é uma questão de afinação, é a sinderese, lembrou, certa vez, o falecido filósofo Olavo de Carvalho. A imposição de uma regra, dizia Olavo, embota a capacidade humana de se dar conta das coisas, o sujeito acaba não raro indo contra uma regra, porque para ele seria apenas a vontade arbitrária de uma pessoa qualquer de sua sociedade e cultura em um dado momento histórico. Cultura, as vezes, é apenas o outro nome para o arbítrio de uma dada pessoa membro de uma dada sociedade em um dado período histórico que é o contrário do cristianismo que se pretende, poderia-se dizer, um catolicismo romano, um universalismo do velho Império Romano que conquistou todos os povos mais diversos do mundo conhecido no teu tempo. O cristianismo pretende-se universal, a Bíblia Sagrada mesmo diz que os cristãos são gente de toda a tribo, língua, povo e nação (Apocalipse 5, 9), e inclui-se toda raça não só os israelitas. Portanto, eu acho que jamais que o cristianismo, pelo menos o da Igreja Católica, pode ser uma cultura ou um mero costume circunscritos a um período da História.


Tendem a querer impor uma regra os mais fundamentalistas dos cristãos ou os messiânicos que é o caso do homem que pertenceria à seita obscura do judaísmo messiânico com o qual eu dialogava, que gosta de traduzir nomes bíblicos como o de Jesus Cristo para o hebraico achando que com isso estaria sendo mais ortodoxo. Ele que odeia a Igreja Católica, entretanto, faz uso do Novo Testamento para condenar a homossexualidade, Novo Testamento que foi definido como tal pela mesma Igreja Católica, então, é alguma coisa contraditória ficar com o Novo Testamento definido com autoridade pela Igreja Católica e não aceitar a autoridade dessa mesma Igreja em tudo o mais, diria um padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior que é um outro extremista que já disse que não quer direitos para nós, gays, talvez ele queira que hajam, por exemplo, restaurantes só para gays e outros só para heterossexuais? Eu acho com Olavo que não funciona imposição de regras, Olavo que terminou os seus dias um extremista fanático anticomunista vendo comunistas atrás das portas e por trás dos arbustos, é preciso trilhar um caminho rumo à sabedoria. Um caminho que pode ser árduo, que o diga eu, na última semana, tentanto fazer jejum, não consegui fazê-lo, mas, senti pela minha própria intenção de fazê-lo o quanto a coisa é árdua.


O caminho da sabedoria é à maneira da escala de Diotima de Mantinea a velha sábia que ensinou Sócrates sobre o amor que é uma escala da contemplação dos belos corpos, passando pelas belas ciências como a Matermática que é uma ciência que não passaria por uma empiria material até a contemplação lá no topo do belo em si. Eu acho que é pelo menos, até por uma questão de ordem e paz social, é uma redução de danos, no caso da homossexualidade, poderia ser assim até no caso do consumo de drogas com o uso de agulhas descartáveis para evitar-se o contágio da AIDS, seria racional no a caminho da sabedoria uma ponderação do contato com o que é mais grosseiro fazendo-se uso do mesmo com parcimônia pouco a pouco rumo à sua substituição, enfim, pela castidade, até porque o sexo dura o tempo da juventude e da saúde e somente para um psicopata ou uma pessoa louca de outra forma há um tal apego obcecado ao corpo e o tratar o parceiro como um objeto a ser usado e depois descartado.

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