Leitura: Mateus 9.35-38
E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas,
pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades. Vendo ele as
multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor.
E, então, se dirigiu a seus discípulos: A seara,
na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande
trabalhadores para a sua seara.
Introdução:
Certamente temos
visto multidões, idosos e jovens, enfrentando a chuva, a lama, o frio, a
ausência de transporte, a insegurança das cidades, para ver o Papa em
sua
visita ao Brasil, que começou na segunda-feira, 22.07.2013, e se estende
até
o último domingo do mês. A mídia tem divulgado a visita com tanta
intensidade, que se você estava neste planeta, nestas últimas semanas,
não pode ter ignorado a presença do Papa no Brasil. Por exemplo, a
revista semanal de maior circulação e repercussão (VEJA) trouxe
reportagens de capa sobre o acontecimento em duas semanas seguidas. Como
avaliar a pessoa do Papa, a sua visita e os seus pronunciamentos? Como
entender as expressões de
fé e devoção encontradas nos olhares das multidões? O texto de Mateus
9.35-38 fala de multidões às quais não faltava religiosidade! Ao lado da
curiosidade, havia devoção, ensino dogmático, religião, mas eram
ovelhas "que não tinham pastor"! A sinceridade, mesmo presente, não era
passaporte para a verdade! E o pastor de que se fala no texto, é um só -
Cristo Jesus, fora do qual não há salvação. Quem é o Papa atual?
O cardeal argentino, Jorge
Mario Bergoglio foi escolhido Papa (e assumiu o nome de Francisco) em um dia considerado por muitos “cabalístico” (13.03.13). Havia uma expectativa em
muitas pessoas e na mídia de que o novo líder da Igreja Católica fosse um Papa “progressista”.
Estes se espantaram com a sua posição em relação à união de gays; à questão do
homossexualismo, que hoje em dia é propagada como “apenas” uma opção sexual; e
sobre o aborto. Ele é contra, ponto final! Alguns católicos se
espantaram porque ele não colocou, de início, o envolvimento social
como prioridade máxima da Igreja. Em vez disso, contrariou a mensagem
que tem soado renitentemente ao longo das quatro últimas décadas, especialmente
em terras brasileiras, proclamada pelos politizados “teólogos da libertação”,
ou da natimorta “teologia pública”. Ele aparentou priorizar as questões
espirituais!
Desde o início do
seu “Papado” certas declarações chamaram a atenção, também, dos evangélicos.
Por exemplo, ele disse que a missão da Igreja é difundir a mensagem
de Jesus Cristo pelo mundo. Na realidade, ele foi mais enfático ainda e
afirmou que se esse não for o foco principal, a Instituição da Igreja Católica
Romana tende a se transformar em uma “ONG beneficente”, mas
sem relevância maior à saúde espiritual das pessoas! Depois, o viés mudou um
pouco, especialmente nesta visita ao Brasil. A ênfase passou para uma postura
de vida ascética e humilde, demonstrando uma frugalidade que, em uma era de
opulência, corrupção, apropriação de valores alheios e desprezo pelos valores
reais da vida, também soa saudável e pertinente!
Ei! Disseram alguns
evangélicos – essa é a nossa mensagem!!
Bom, não seria a
primeira vez na história que um prelado católico reconhece que a Igreja tem
estado equivocada em seus caminhos e mensagem. Já houve um monge agostiniano
que, estudando a Bíblia, verificou que tinha que retornar às bases das Escrituras e reavivar a missão da igreja na
proclamação do evangelho, libertando-a de penduricalhos humanos absorvidos
através de séculos de tradição. Estes possuíam apenas características místicas,
mas nenhuma contribuição espiritual e de vida que fosse real às pessoas. Assim
foi disparado o movimento que ficou conhecido na história como a Reforma
do Século 16, com as mensagens, escritos e ações de Martinho Lutero, em
1517. Lutero foi seguido por muitos outros reformadores, que se apegaram à
Bíblia como regra de fé e prática.
Será que estamos
testemunhando uma “segunda reforma” dentro da Igreja
Católica? Se algumas dessas declarações do Papa Francisco forem levadas a
sério, por ele próprio e por seus seguidores, vai ser uma revolução. Mas é
importante lembrar, entretanto, que proclamar a mensagem de Jesus
Cristo é algo bem abrangente e sério. Existem implicações definidas e explícitas nessa frase. E a questão que não quer calar é: será que a Igreja Católica está
disposta a se definir com coragem em pelo
menos nessas cinco áreas cruciais? Examinemos uma a uma.
1. AS ESCRITURAS: Rejeitar apêndices aos livros
inspirados das Escrituras. Ou seja, assumir lealdade apenas às Escrituras Sagradas, rejeitando os
chamados livros apócrifos. Proclamar
as palavras de Jesus, nesta área, é aceitar tão somente o que ele
aceitou. Em Lucas 24.44, Jesus referiu-se às Escrituras disponíveis antes dos
livros do Novo Testamento, como “A Lei de Moisés, Os Profetas e Os Salmos” –
essa era exatamente a forma da época de se referir às Escrituras que formam o Antigo Testamento, em três divisões
específicas (Pentateuco, livros históricos e proféticos e livros poéticos)
compreendendo, no total, 39 livros.
Representam os livros inspirados aceitos até hoje pelo cristianismo histórico,
abraçado pelos evangélicos, bem como pelos Judeus de então e da atualidade. Ou
seja, nenhuma menção ou aceitação dos livros
apócrifos, não inspirados, que foram inseridos 400 anos depois de Cristo,
quando Jerônimo editou a tradução em Latim da Bíblia – a Vulgata Latina[1]. Evangélicos e católicos concordam quanto
aos 27 livros do Novo Testamento, mas essas adições à Palavra são responsáveis
pela introdução de diversas doutrinas estranhas, que nunca foram ensinadas ou
abraçadas por Jesus e pelos apóstolos. Além disso, na Igreja Católica, a própria TRADIÇÃO tem força normativa igual à Bíblia. Proclamar
a palavra de Jesus ao mundo começa com a aceitação das Escrituras do
Antigo e Novo Testamento, e elas somente,
como fonte de conhecimento religioso e regra de fé e prática. Se não nos
atemos a conhecer as
Escrituras verdadeiras, caímos em erro, como alerta Jesus a alguns
religiosos do seu tempo, que apesar de citarem as Escrituras, se
apegavam mais às tradições do que à Palavra de Deus: “Não provém o vosso erro de não conhecerdes
as Escrituras, nem o poder de Deus?” (Marcos 12.24). O livro do Apocalipse, no final da Bíblia, traz
palavras duras tanto para subtrações como para ADIÇÕES às Escrituras:
(22.18) “Eu, a todo aquele
que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe
acrescentará os flagelos escritos neste livro; (22.19) e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro
desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e
das coisas que se acham escritas neste livro”.
2. A MEDIAÇÃO COM
DEUS: Rejeitar a mediação de qualquer outro (ou outra) entre Deus e as Pessoas, que não seja o
próprio Cristo. Não acatar a mediação de Maria, e muito menos a designação dela
como co-redentora, lembrando que o ensino da palavra é o de que “há um
só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1
Timóteo 2.5). Na realidade, a Igreja precisa obedecer até à própria Maria, que
ensinou: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (João 2.5); e Ele
nos diz: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao pai, senão
por mim” (João 14.6). Foi um momento revelador da dificuldade que
o Papa tem na aderência a essa mensagem da Bíblia, observar sua homilia pública
(angelus) de 17.03.2013. Após falar várias coisas importantes e bíblicas
sobre perdão e misericórdia divina, finalizou dizendo: “procuremos a intercessão de Maria”... Ouvimos
as próprias palavras do Papa: “No dia
seguinte à minha eleição como Bispo de Roma fui visitar a Basílica de Santa
Maria Maior, para confiar a Nossa Senhora o meu ministério de Sucessor de
Pedro”.[2]
Em Aparecida, nesta visita ao Brasil, ele também disse: “Hoje, eu quis vir aqui para suplicar à
Maria, nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos
seus pés a vida do povo latino-americano”. “Que Deus os abençoe e Nossa Senhora
Aparecida cuide de você”. Não é assim que irá proclamar a palavra de Jesus
ao mundo, pois precisa apresentá-lo
como único e exclusivo mediador;
nosso advogado; aquele que pleiteia e defende a nossa causa perante o tribunal
divino. Para o Papa, “a Igreja sai em
missão sempre na esteira de Maria”,
mas o Povo de Deus sabe, que a igreja verdadeira segue a vontade de Deus,
expressa em Sua Palavra.
3. O CULTO ÀS
IMAGENS: Rejeitar as imagens e o panteão de santos composto por
vários personagens que também são alvo de adoração e devoção devidas somente a
Cristo. Essa característica da Igreja Católica está relacionada com a
utilização de imagens de escultura, como objeto de adoração e veneração; e
também precisaria ser rejeitada.[3]
Ela contraria o segundo mandamento e desvia os olhos dos fiéis daquele que é o
“autor e consumador da fé - Jesus” (Hebreus 12.2). Proclamar a palavra de Jesus ao mundo significa abandonar a
prática espúria e humana da canonização de mortais comuns, pecadores como eu e
você, em complexos, mas inúteis processos eclesiásticos, que não têm o poder de
aferir ou atribuir poderes especiais a esses santos. Proclamar a mensagem de Jesus, seria abandonar a adoração e
devoção à “Nossa Senhora Aparecida” e a tantas outras “Nossas Senhoras” e
ídolos que integram a religião Católico-Romana. Vejam o que nos diz a Bíblia:
Salmo:
115.3 No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe
agrada.
115.4 Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos
de homens.
115.5 Têm boca e não falam; têm olhos e não vêem;
115.6 têm ouvidos e não ouvem; têm nariz e não
cheiram.
115.7 Suas mãos não apalpam; seus pés não andam; som
nenhum lhes sai da garganta.
115.8 Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e
quantos neles confiam.
115.9 Israel
confia no SENHOR; ele é o seu amparo e o seu escudo.
Habacuque
2.18 Que aproveita o ídolo, visto que o seu artífice
o esculpiu? E a imagem de fundição, mestra de mentiras, para que o artífice
confie na obra, fazendo ídolos mudos?
Jeremias
10.3 Porque os costumes dos povos são vaidade; pois
cortam do bosque um madeiro, obra
das mãos do artífice, com machado;
10.4 com prata e ouro o enfeitam, com pregos e
martelos o fixam, para que não oscile.
10.5 Os
ídolos são como um espantalho em pepinal e não podem falar; necessitam de quem os leve, porquanto
não podem andar. Não tenhais receio deles, pois não podem fazer mal, e não está neles o fazer o bem.
4. O DESTINO DAS
PESSOAS: Rejeitar o ensino de que existe um estado pós-morte que proporciona
uma “segunda chance” às pessoas. A doutrina do purgatório não tem base bíblica e
surgiu exatamente dos livros conhecidos como apócrifos (em 2 Macabeus 12.45),
sendo formalizada apenas nos Concílios de Lyon e Florença, em 1439. Mas Jesus e
a Bíblia ensinam que existem apenas dois destinos que esperam
as pessoas, após a morte: Estar na glória com o Criador – salvos pela graça
infinita de Deus (Lucas 23.43 – “Em verdade te digo que hoje estarás comigo
no paraíso” – e Atos 15.11 - “fomos salvos pela graça do Senhor Jesus”), ou na morte eterna
(Mateus 23.33 – “Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da
condenação do inferno?”), como consequência dos nossos próprios pecados. Proclamar a palavra de Jesus ao mundo é alertar as pessoas
sobre a inevitabilidade da morte eterna, pregando o evangelho do arrependimento
e a boa nova da salvação através de Cristo, sem iludir os fiéis com falsos
destinos.
5. AS REZAS: Rejeitar
os “mantras” religiosos, que são proferidos como se tivessem validade intrínseca, como
fortalecimento progressivo pela repetibilidade. É o próprio Jesus que nos
ensinou, em Mateus 6.7: “... orando, não useis de vãs repetições,
como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos”. É
simplesmente incrível como a ficha não tem caído na Igreja Católica, ao longo
dos séculos e, mesmo com uma declaração tão clara contra as
repetições, da parte de Cristo, as rezas, rosários, novenas, sinais da cruz
etc. são promovidos e apresentados como sinais de espiritualidade ou
motivadores de ação divina àqueles que os repetem. Proclamar a palavra de Jesus ao mundo é dirigir-se ao Pai
como ele ensina, em nome do próprio Jesus, no poder do Espírito Santo, abrindo
o nosso coração perante o trono de graça (Filipenses 4.6: “Não andeis ansiosos
de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas
petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças”).
Conclusão:
Assim, enquanto
acompanhamos a visita, é verdade que podemos admirar a coragem deste homem, Jorge
Bergoglio, que tem se pronunciado claramente contra alguns pecados aberrantes
que estão destruindo a família e a sociedade. No entanto, muito falta para que
a Palavra de Deus e os ensinamentos de Jesus façam parte real de sua mensagem e
de uma igreja transformada pelo poder do Espírito Santo – como vimos em cada
uma dessas áreas mencionadas (e em outras, também).
Em toda essa
situação, podemos aprender algumas coisas: (1) Pedir a Deus que dê
forças às
nossas lideranças evangélicas, e a nós mesmos, para termos intrepidez no
interpelar de governantes e da mídia, quando promovem leis e
comportamentos que
contradizem totalmente os princípios que Deus delineia em Sua Palavra.
Estes
princípios sempre são os melhores para o bem da humanidade, na qual o
povo de
Deus (incluindo nossos filhos e netos) está inserido. (2) Exercitar
cautela em
nossa apreciação e entusiasmo das ações e palavras do Papa – a idolatria
e
diminuição da intermediação de Cristo continuam bem presentes em sua
visão
religiosa e na Igreja que o tem como líder. Envolvimentos de evangélicos
nessas celebrações são totalmente desprovidas de base bíblica -
representam um descaso por essas profundas diferenças doutrinárias que
representam a diferença entre a vida e a morte espiritual das pessoas.
(3) Clamar a Deus por misericórdia
e salvação real para o nosso povo e para a nossa terra. Como é triste em
ver
tantos olhos e esperanças fixados em santos, mitos, misticismo e na
pessoa humana, em
vez de no Deus único soberano. O Deus da Bíblia é a esperança de nossas
vidas.
É ele que nos alcança e nos fala em Cristo Jesus, pelo poder do Espírito
Santo.
Esse nosso Deus é real e eterno e não temporal como o Papa.
Solano Portela
[1] A Vulgata Latina
(382 – 402 d.C.), tradução para o latim, da Bíblia, contém 73 livros (e não 66) além de adições de capítulos em alguns
livros do Antigo Testamento, que não constam dos textos hebraicos, nem da Septuaginta (tradução
para o Grego, do Antigo Testamento, realizada em torno de 280 a.C.). Estes
livros adicionais são chamados de livros
apócrifos (duvidosos, fabulosos, falsos). O próprio Jerônimo colocou notas
de advertências, quanto à canonicidade e validade dessas adições, mas essa
cautela foi suprimida nos séculos à frente. Sua aceitação como escritura
canônica, no seio da Igreja Católica, foi formalizada pelo Concílio de Trento,
em 1546 d.C. Desapareceu, assim, a compreensão de que aqueles livros estavam
ali colocados por “seu valor histórico” ou devocional. É possível que se
Jerônimo soubesse, que na posteridade seriam considerados parte integral da
Bíblia, provavelmente não os teria incluído em seu trabalho.
[2]
Todas essas citações foram extraídas da Homilia no Santuário da Aparecida,
proferida em 24.07.2013. http://www.news.va/pt/news/santuario-da-aparecida-homilia-do-Papa-24-julho-20
, acessado em 26.07.2013.
[3] Na mesma homilia
já referida, o Papa disse: “A história
deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem
conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Parnaíba, encontram algo inesperado:
uma imagem de Nossa Senhora da
Conceição. Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera,
tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe”?