Do blog Fratres in Unum.com
Aproxima-se o dia em que o Papa Francisco vai entregar os seus votos natalícios aos dirigentes da Cúria Romana, com muito discurso.
A nota é de Sandro Magister, publicada no seu blog Seu Settimo Cielo, 11-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
E muitos se perguntam o que ele vai dizer desta vez, depois do golpe do ano passado, quando derramou sobre os curiais a lista das 15 vergonhosas “doenças” pelas quais ele os julgava afetados.
Desde então, o Vaticano, o murmúrio das críticas contra Jorge Mario Bergoglio foi crescendo, mas sempre protegida pelo anonimato, sendo conhecida a reatividade do papa contra qualquer um que o critique ou o irrite.
A mais instrutiva antologia desses rumores de bispos e cardeais da Cúria foi, no fim de abril de 2015, o serviço do vaticanista suíço Giuseppe Rusconi, que apareceu em alemão na revista berlinense Cicero e, em italiano, no seu blog Rosso Porpora.
Mas agora, novamente na Alemanha, e desta vez na revista Focus, saiu mais uma bordoada, sob a forma de uma carta aberta ao papa, por obra de um ex-curial de longo curso, de nacionalidade presumivelmente alemã.
O autor é conhecido da direção da Focus, mas nem mesmo ele assina com nome e sobrenome, não só pelo “clima de medo” que ele diz reinar hoje no Vaticano, mas também para “proteger da ira do papa” os seus anteriores superiores na Cúria.
O que se segue é a tradução integral da carta publicada na Focus no dia 29 de novembro.
Eis o texto.
Padre Santo,
no seu discurso para o Natal de 2014, você chamou os seus colaboradores da Cúria para fazerem, em primeiro lugar, um exame de consciência. De fato, o Advento é uma ocasião para refletir sobre o que Deus nos promete e espera de nós. Você afirmou que os seus colaboradores no Vaticano devem ser um exemplo para toda a Igreja e, depois, elencou uma série de “doenças” das quais a Cúria sofreria.
Naquele momento, eu senti esse julgamento como bastante duro e até mesmo injusto contra muitos no Vaticano que eu conheço pessoalmente, enquanto você parecia falar como alguém que conhece o Vaticano apenas de fora ou apenas de cima. No entanto, justamente aquele seu discurso inspirou esta carta que eu lhe escrevo. Seguindo o seu próprio exemplo, vou deixar de lado todas as coisas boas que você faz e diz, e vou listar apenas aqueles aspectos do seu exercício do ministério papal que me parecem problemáticos.
1. Uma atitude emotiva e anti-intelectual
A alternativa a uma Igreja da doutrina é uma Igreja do arbítrio, não uma Igreja do amor. Entre muitos dos seus colaboradores e conselheiros, há uma real falta de competência em termos de doutrina e teologia; são homens que muitas vezes têm pelas costas uma carreira no governo eclesial ou na administração de uma universidade, e muito frequentemente preferem raciocinar em termos pragmáticos e políticos. Você, como sumo mestre da Igreja, deveria mostrar com mais clareza o primado da fé, para você mesmo e para todos os católicos. A fé sem a doutrina não é nada.
2. Autoritarismo
Você está se distanciando da sabedoria que é conservada na disciplina eclesial, no direito canônico e também na práxis histórica da Cúria. Junto com a sua aversão a um ensinamento supostamente teórico, essa inclinação leva a um autoritarismo que nem mesmo Santo Inácio, o fundador da sua ordem dos jesuítas, teria aprovado. Você realmente escuta as advertências daqueles que lhe apontam aquilo que você, sozinho, imediatamente não viu nem entendeu? O que aconteceria se você viesse a conhecer o meu nome? Agir de modo menos autoritário ajudaria a mudar o atual clima de medo.
3. Populismo da mudança
Invocar a mudança está na moda hoje. Mas especialmente o sucessor de Pedro tem o dever de recordar a si mesmo e aos outros coisas que mudam apenas lentamente, e ainda mais coisas que não mudam em nada. Você realmente acredita que o consenso que obtém dos gurus da política e da mídia é um bom sinal? Cristo não prometeu a Pedro a popularidade na mídia e o culto de uma celebridade (Jo 21, 18). Muitas das suas afirmações levantam falsas expectativas e dão a impressão prejudicial de que a doutrina e a disciplina da Igreja poderiam e deveriam ser adaptadas às opiniões mutáveis da maioria. O apóstolo Paulo pensa de modo diferente sobre isso (Rm 12m 2; Ef 4, 14).
4. Nada de “humildade” diante da herança dos seus antecessores
O seu comportamento é percebido como uma crítica ao modo pelo qual os seus antecessores (muitas vezes canonizados) viveram, falaram e agiram. Eu não consigo ver como isso se concilia com a humildade que você tantas vezes invocou e exigiu. Essa humildade seguramente é necessária, sobretudo quando se trata de continuar a tradição que remonta a Pedro. O seu comportamento sugere implicitamente a ideia de que você quer, de algum modo, reinventar o ministério petrino. Em vez de preservar fielmente a herança dos seus antecessores, você quer se apropriar dela de um modo muito criativo. Mas São João não disse que “é preciso que Ele, o Cristo, cresça, e eu diminua” (Jo 3, 30)?
5. Pastoralismo
Recentemente, você disse que o que mais lhe agrada em ser papa é quando pode agir como pastor. Naturalmente, nem um papa nem qualquer outro pastor deve pôr minimamente em dúvida que a Igreja segue a doutrina de Cristo em tudo aquilo que faz (pastoral, sacramentos, liturgia, catequese, teologia, caridade), porque, em última análise, tudo depende da fé revelada assim como ela nos chega nas Santas Escrituras e na sagrada tradição, e portanto ela é vinculante para a consciência dos fiéis. Não podemos nem mesmo viver a fé e transmiti-la aos outros se não a conhecemos. Sem uma boa teoria, não podemos agir bem no longo prazo. Sem um ensinamento doutrinal, no campo do cuidado pastoral, nos encontraremos apenas com alguns sucessos emocionais e principalmente efêmeros.
6. Exibição exagerada da simplicidade do seu estilo de vida
Certamente, você quer dar o exemplo; mas convém se ocupar, você mesmo, de cada mínima atividade cotidiana? No campo ascético, a mão esquerda não deve saber o que faz a mão direita (Mt 6, 3); caso contrário, o conjunto parece de algum modo artificial. Se você realmente quer dirigir carros ecológicos, é preciso pagar muito mais, ou fazer com que outro pague o preço das tecnologias mais caras: a ecologia tem o seu preço.
7. Particularismo
Há um particularismo que muitas vezes subordina os objetivos da Igreja universal aos pontos de vista de apenas uma parte da Igreja. Essa atitude em um papa é quase cômica, se pensarmos como o nosso mundo está muito mais interconectado, mais móvel e mais aproximado do que nunca. Especialmente hoje, é um tesouro que a Igreja Católica seja sempre a mesma em todo o mundo, que os católicos em todos os países vivam, rezem e pensem de modo similar e, juntos, uns com os outros, correspondam à realidade global da vida.
8. Uma contínua vontade de espontaneidade
Uma falta de profissionalismo não é um sinal da obra do Espírito Santo. Expressões como “proliferar como coelhos” ou “quem sou eu para julgar?” podem impactar muitas pessoas, mas levam a graves mal-entendidos. Todas as vezes, outros têm que correr para explicar o que você realmente queria dizer. Agir fora do programa e fora do protocolo tem os seus tempos e lugares; mas não pode se tornar a norma. Trata-se também do devido direito aos seus colaboradores em Roma e em todo o mundo. Para um papa, a medida da espontaneidade deve ser muito inferior ao dos pastores.
9. Falta de clareza sobre a relação entre liberdade religiosa, política e econômica
Muitas das suas declarações indicam que o Estado deveria sempre governar mais, controlar mais e ser mais responsável, em particular no campo econômico e social. Na Europa, estamos acostumados a Estados muito fortes. Mas o fato de que o Estado pode cuidar de tudo é refutado pela história. A Igreja deve defender organizações não governamentais que podem fornecer bens que o Estado não pode fornecer do mesmo modo. Contra a tendência de esperar tudo da parte do Estado, a Igreja deve ajudar as pessoas a cuidar da própria vida. O estado de bem-estar social também pode se tornar poderoso demais e, com isso, paternalista, autoritário e não liberal.
10. Metaclericalismo
De um lado, você mostra pouco interesse pelo clero, mas, de outro, critica um clericalismo que é mais imaginário do que real. Essa falta de interesse não pode ser compensada por boas intenções ou por declarações diante de pequenos grupos.
Os bispos e os sacerdotes precisam saber que o papa está às suas costas quando defendem o Evangelho, “no tempo e fora do tempo”, mesmo que façam isso de um modo que, pessoalmente, não agrade ao papa. Não é bom que algumas pessoas pensem que o papa vê muitas coisas de um modo diferente do Catecismo, e que outras o imitem a fim de fazer carreira neste pontificado.
Como papa, você presta um serviço necessário para a continuidade e a tradição da Igreja, e também cristãos não católicos são da mesma opinião. Seria melhor que você reduzisse as suas inovações e provocações; já temos muitas pessoas que fazem isso. O seu magistério, como tal, já é, por si só, palavra definitiva de provocação e de inovação, e, no fim das contas, você é o representante de Cristo e o mestre supremo da nossa fé sobrenatural.
“Graça, misericórdia e paz” vêm “da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, na verdade e no amor” (2Jo 1, 3); e só vêm em bloco. Enquanto neste ano de misericórdia você também se prepara para o Natal, por favor, acolha esta ocasião como um incentivo para descobrir o que você negligenciou nos últimos tempos.
Deixe-se ajudar pelos seus colaboradores, que vão aprender com você apenas se você estiver disposto a aprender alguma coisa com eles. Como eu, muitos outros se encontram em dificuldade com o modo pelo qual você às vezes fala e age. Mas isso pode ser ajustado, se ficar claro que você escuta o que outros têm a dizer.
Infelizmente, eu sei que você não tolera bem esse tipo de crítica e, por esse motivo, não escrevo o meu nome no fim desta carta. Quero proteger os meus superiores da sua ira, sobretudo os sacerdotes e bispos com os quais eu trabalhei por muitos anos em Roma e dos quais eu aprendi tanto. Mas você pode agir de modo a varrer de mim e dos outros os nossos temores ou, melhor ainda, pode tornar supérfluas cartas como esta, simplesmente aprendendo alguma coisa com os outros.
Nesse espírito, desejo-lhe um abençoado e meditativo tempo de Advento!
Aproxima-se o dia em que o Papa Francisco vai entregar os seus votos natalícios aos dirigentes da Cúria Romana, com muito discurso.
A nota é de Sandro Magister, publicada no seu blog Seu Settimo Cielo, 11-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
E muitos se perguntam o que ele vai dizer desta vez, depois do golpe do ano passado, quando derramou sobre os curiais a lista das 15 vergonhosas “doenças” pelas quais ele os julgava afetados.
Desde então, o Vaticano, o murmúrio das críticas contra Jorge Mario Bergoglio foi crescendo, mas sempre protegida pelo anonimato, sendo conhecida a reatividade do papa contra qualquer um que o critique ou o irrite.
A mais instrutiva antologia desses rumores de bispos e cardeais da Cúria foi, no fim de abril de 2015, o serviço do vaticanista suíço Giuseppe Rusconi, que apareceu em alemão na revista berlinense Cicero e, em italiano, no seu blog Rosso Porpora.
Mas agora, novamente na Alemanha, e desta vez na revista Focus, saiu mais uma bordoada, sob a forma de uma carta aberta ao papa, por obra de um ex-curial de longo curso, de nacionalidade presumivelmente alemã.
O autor é conhecido da direção da Focus, mas nem mesmo ele assina com nome e sobrenome, não só pelo “clima de medo” que ele diz reinar hoje no Vaticano, mas também para “proteger da ira do papa” os seus anteriores superiores na Cúria.
O que se segue é a tradução integral da carta publicada na Focus no dia 29 de novembro.
Eis o texto.
Padre Santo,
no seu discurso para o Natal de 2014, você chamou os seus colaboradores da Cúria para fazerem, em primeiro lugar, um exame de consciência. De fato, o Advento é uma ocasião para refletir sobre o que Deus nos promete e espera de nós. Você afirmou que os seus colaboradores no Vaticano devem ser um exemplo para toda a Igreja e, depois, elencou uma série de “doenças” das quais a Cúria sofreria.
Naquele momento, eu senti esse julgamento como bastante duro e até mesmo injusto contra muitos no Vaticano que eu conheço pessoalmente, enquanto você parecia falar como alguém que conhece o Vaticano apenas de fora ou apenas de cima. No entanto, justamente aquele seu discurso inspirou esta carta que eu lhe escrevo. Seguindo o seu próprio exemplo, vou deixar de lado todas as coisas boas que você faz e diz, e vou listar apenas aqueles aspectos do seu exercício do ministério papal que me parecem problemáticos.
1. Uma atitude emotiva e anti-intelectual
A alternativa a uma Igreja da doutrina é uma Igreja do arbítrio, não uma Igreja do amor. Entre muitos dos seus colaboradores e conselheiros, há uma real falta de competência em termos de doutrina e teologia; são homens que muitas vezes têm pelas costas uma carreira no governo eclesial ou na administração de uma universidade, e muito frequentemente preferem raciocinar em termos pragmáticos e políticos. Você, como sumo mestre da Igreja, deveria mostrar com mais clareza o primado da fé, para você mesmo e para todos os católicos. A fé sem a doutrina não é nada.
2. Autoritarismo
Você está se distanciando da sabedoria que é conservada na disciplina eclesial, no direito canônico e também na práxis histórica da Cúria. Junto com a sua aversão a um ensinamento supostamente teórico, essa inclinação leva a um autoritarismo que nem mesmo Santo Inácio, o fundador da sua ordem dos jesuítas, teria aprovado. Você realmente escuta as advertências daqueles que lhe apontam aquilo que você, sozinho, imediatamente não viu nem entendeu? O que aconteceria se você viesse a conhecer o meu nome? Agir de modo menos autoritário ajudaria a mudar o atual clima de medo.
3. Populismo da mudança
Invocar a mudança está na moda hoje. Mas especialmente o sucessor de Pedro tem o dever de recordar a si mesmo e aos outros coisas que mudam apenas lentamente, e ainda mais coisas que não mudam em nada. Você realmente acredita que o consenso que obtém dos gurus da política e da mídia é um bom sinal? Cristo não prometeu a Pedro a popularidade na mídia e o culto de uma celebridade (Jo 21, 18). Muitas das suas afirmações levantam falsas expectativas e dão a impressão prejudicial de que a doutrina e a disciplina da Igreja poderiam e deveriam ser adaptadas às opiniões mutáveis da maioria. O apóstolo Paulo pensa de modo diferente sobre isso (Rm 12m 2; Ef 4, 14).
4. Nada de “humildade” diante da herança dos seus antecessores
O seu comportamento é percebido como uma crítica ao modo pelo qual os seus antecessores (muitas vezes canonizados) viveram, falaram e agiram. Eu não consigo ver como isso se concilia com a humildade que você tantas vezes invocou e exigiu. Essa humildade seguramente é necessária, sobretudo quando se trata de continuar a tradição que remonta a Pedro. O seu comportamento sugere implicitamente a ideia de que você quer, de algum modo, reinventar o ministério petrino. Em vez de preservar fielmente a herança dos seus antecessores, você quer se apropriar dela de um modo muito criativo. Mas São João não disse que “é preciso que Ele, o Cristo, cresça, e eu diminua” (Jo 3, 30)?
5. Pastoralismo
Recentemente, você disse que o que mais lhe agrada em ser papa é quando pode agir como pastor. Naturalmente, nem um papa nem qualquer outro pastor deve pôr minimamente em dúvida que a Igreja segue a doutrina de Cristo em tudo aquilo que faz (pastoral, sacramentos, liturgia, catequese, teologia, caridade), porque, em última análise, tudo depende da fé revelada assim como ela nos chega nas Santas Escrituras e na sagrada tradição, e portanto ela é vinculante para a consciência dos fiéis. Não podemos nem mesmo viver a fé e transmiti-la aos outros se não a conhecemos. Sem uma boa teoria, não podemos agir bem no longo prazo. Sem um ensinamento doutrinal, no campo do cuidado pastoral, nos encontraremos apenas com alguns sucessos emocionais e principalmente efêmeros.
6. Exibição exagerada da simplicidade do seu estilo de vida
Certamente, você quer dar o exemplo; mas convém se ocupar, você mesmo, de cada mínima atividade cotidiana? No campo ascético, a mão esquerda não deve saber o que faz a mão direita (Mt 6, 3); caso contrário, o conjunto parece de algum modo artificial. Se você realmente quer dirigir carros ecológicos, é preciso pagar muito mais, ou fazer com que outro pague o preço das tecnologias mais caras: a ecologia tem o seu preço.
7. Particularismo
Há um particularismo que muitas vezes subordina os objetivos da Igreja universal aos pontos de vista de apenas uma parte da Igreja. Essa atitude em um papa é quase cômica, se pensarmos como o nosso mundo está muito mais interconectado, mais móvel e mais aproximado do que nunca. Especialmente hoje, é um tesouro que a Igreja Católica seja sempre a mesma em todo o mundo, que os católicos em todos os países vivam, rezem e pensem de modo similar e, juntos, uns com os outros, correspondam à realidade global da vida.
8. Uma contínua vontade de espontaneidade
Uma falta de profissionalismo não é um sinal da obra do Espírito Santo. Expressões como “proliferar como coelhos” ou “quem sou eu para julgar?” podem impactar muitas pessoas, mas levam a graves mal-entendidos. Todas as vezes, outros têm que correr para explicar o que você realmente queria dizer. Agir fora do programa e fora do protocolo tem os seus tempos e lugares; mas não pode se tornar a norma. Trata-se também do devido direito aos seus colaboradores em Roma e em todo o mundo. Para um papa, a medida da espontaneidade deve ser muito inferior ao dos pastores.
9. Falta de clareza sobre a relação entre liberdade religiosa, política e econômica
Muitas das suas declarações indicam que o Estado deveria sempre governar mais, controlar mais e ser mais responsável, em particular no campo econômico e social. Na Europa, estamos acostumados a Estados muito fortes. Mas o fato de que o Estado pode cuidar de tudo é refutado pela história. A Igreja deve defender organizações não governamentais que podem fornecer bens que o Estado não pode fornecer do mesmo modo. Contra a tendência de esperar tudo da parte do Estado, a Igreja deve ajudar as pessoas a cuidar da própria vida. O estado de bem-estar social também pode se tornar poderoso demais e, com isso, paternalista, autoritário e não liberal.
10. Metaclericalismo
De um lado, você mostra pouco interesse pelo clero, mas, de outro, critica um clericalismo que é mais imaginário do que real. Essa falta de interesse não pode ser compensada por boas intenções ou por declarações diante de pequenos grupos.
Os bispos e os sacerdotes precisam saber que o papa está às suas costas quando defendem o Evangelho, “no tempo e fora do tempo”, mesmo que façam isso de um modo que, pessoalmente, não agrade ao papa. Não é bom que algumas pessoas pensem que o papa vê muitas coisas de um modo diferente do Catecismo, e que outras o imitem a fim de fazer carreira neste pontificado.
Como papa, você presta um serviço necessário para a continuidade e a tradição da Igreja, e também cristãos não católicos são da mesma opinião. Seria melhor que você reduzisse as suas inovações e provocações; já temos muitas pessoas que fazem isso. O seu magistério, como tal, já é, por si só, palavra definitiva de provocação e de inovação, e, no fim das contas, você é o representante de Cristo e o mestre supremo da nossa fé sobrenatural.
“Graça, misericórdia e paz” vêm “da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, na verdade e no amor” (2Jo 1, 3); e só vêm em bloco. Enquanto neste ano de misericórdia você também se prepara para o Natal, por favor, acolha esta ocasião como um incentivo para descobrir o que você negligenciou nos últimos tempos.
Deixe-se ajudar pelos seus colaboradores, que vão aprender com você apenas se você estiver disposto a aprender alguma coisa com eles. Como eu, muitos outros se encontram em dificuldade com o modo pelo qual você às vezes fala e age. Mas isso pode ser ajustado, se ficar claro que você escuta o que outros têm a dizer.
Infelizmente, eu sei que você não tolera bem esse tipo de crítica e, por esse motivo, não escrevo o meu nome no fim desta carta. Quero proteger os meus superiores da sua ira, sobretudo os sacerdotes e bispos com os quais eu trabalhei por muitos anos em Roma e dos quais eu aprendi tanto. Mas você pode agir de modo a varrer de mim e dos outros os nossos temores ou, melhor ainda, pode tornar supérfluas cartas como esta, simplesmente aprendendo alguma coisa com os outros.
Nesse espírito, desejo-lhe um abençoado e meditativo tempo de Advento!
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