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quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Email fictício a um amigo

Autoria: João Emiliano Martins Neto

 


Resumo: Um email fictício endereçado a um amigo que serve de um testamento de uma vida como a minha que eu pretendo que seja uma vida reflexiva e crítica, ou seja, que merece ser vivida.


Meu caro amigo, a morte pode colher o homem de repente e como a vida é um presente de Deus, não cabe que uma tal dádiva passe como uma sombra despercebida nem que seja para deixar confusos e irritados os burros que vivem inconscientes por aí, sem pensamento, com suas vidas toscas que não valem ser vividas, porque irrefletidas. E, para mim que sou cristão e que desde as últimas semanas de dezembro do ano da graça de 2020, eu venho interessando-me em tornar-me um teólogo, profissão rara já que a maioria prefere ser apenas mais um a superlotar as fileiras concorridíssimas dos que vendem as suas almas para os limítrofes assuntos meramente humanos ou naturais, não cabe que uma vida como a minha não deixe de pelo menos por escrito de, tal qual e encarnando em minha vida a Palavra de Deus, por meu testemunho de vida - se Deus permitir - a Palavra do Senhor "não voltará para mim vazia, mas realizará toda a obra que desejo e atingirá o propósito para o qual a enviei." (Isaías 55, 11).

 

Tu sabes de minhas tentações na homossexualidade, eu sou um homossexual e a homossexualidade se é algo que a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, à qual servimos com sincero, entretanto, também de forma crítica e inteligente, a Igreja diz ser uma grave depravação e é em si mesma é a homossexualidade algo desordenado, contudo o meu desejo carnal e afetivo pelos homens é sincero, é de coração. Evidentemente que é simétrica homossexualidade, apesar de sua anormalidade e coisa humilhante e que chega a ser ridícula que é, mas é a homossexualidade alinhada, em um certo sentido, ao desejo heterossexual entre eles, os heterossexuais. É a homossexualidade algo de genuinamente humano, o afeto, a paixão, o amor é o mesmo. Ok, dirás, mas é o inverso do que ocorre na heterossexualidade, é o mundo da afetividade ao contrário do que deveria dar-se, normalmente, na busca comum da complementariedade afetiva que ocorre deveras entre macho e fêmea. À essa complementariedade afetiva alude a Santa Igreja em seu mais recente Catecismo do ano de 1992, também no mesmo Catecismo está escrito o que aludi acima de que a homossexualidade seria uma grave depravação. Sim, tudo bem, meu caro leitor deste email, eu concordo contigo. O macio, liso e sem pelos afeminado, travesti ou mulher trans a que alude o bem-aventurado, santo e glorioso Apóstolo São Paulo (1 Coríntios 6, 9), nosso suporte no Céu a sempre rezar por nós, seria o afeminado como que uma pirueta, a roda da subversão homossexual que a leva mais adiante, a fim de o homossexual masculino mais próximo do feminino ser a fêmea que o macho da relação espera. Há, pelo que se pode notar, uma busca de se ser um complemento afetivo torcendo a natureza das coisas, porque normalmente os homens são peludos, rústicos fisicamente e tem a pele mais áspera. O meu sentimento e afeto pelos homens é sincero, é o que eu posso deixar-te aqui como testamento, todavia, se a Palavra de Deus que deve encarnar-se em nós cristãos e que passa pelas luzes dos estudantes de Teologia e os teólogos, se a Palavra de Deus interpretada infalivelmente pela Igreja condena tal prática, quem somos nós para discordarmos? O conselho da vontade divina é luz, cabe a nós, cristãos, comuns aceitarmo-la e a quem é teólogo ou estudante de Teologia traduzir e explicar de forma crítica, aberta, inteligente e com fé na Escritura e na Igreja acerca de tal conteúdo e mandamento.

 

Outra coisa, caro amigo, é que tu sabes de minha inclinação para o protestantismo. O testemunho muito concreto e pessoal de alguém como Martinho Lutero, alguém que já não sabia de que forma agradar a Deus e que conhecera em sua época um certo homem que para ser propício ao favor divino chegou ao ponto de tornar-se um mendigo cadavérico, um esqueleto vivo a carregar um saco pesado às costas com o intuito de penitenciar-se, tal testemunho humano terrível marcou o já desesperado Lutero que em sua angústia de escrúpulos e legalismo extremados não deixou de legar a sua marca indelével na Teologia em uma antropologia teológica marcada por algo genuinamente cristão que é o drama do homem unir-se a Deus, apesar de seus pecados, apesar de suas tentações. O Cristo mesmo, Deus e homem sem divisão, ainda que sem mistura, provou de tal drama ao ser tentado em tudo como nós, homens, ainda que Ele não tivesse pecado (Hebreus 4, 15), porque o pecado é algo que desumaniza o homem, contudo o Cristo impacientava-se por conviver com os homens relapsos sem fé de Sua época a deixarem o pecado e o mal neles dominar (São Mateus 17, 17; São Marcos 9, 17-19) e o próprio Cristo no jardim das aflições do Getsêmani, jardim que como todo jardim pode ser uma forma de santuário para um diálogo privado da criatura com o seu Criador, queria  o Cristo que Lhe fosse afastado de Si o cálice (São Lucas 22, 42) amargo de dor de dar a Sua vida por nós todos, homens, àquela época inimigos (Romanos 5, 6-8) Seus, frios, indiferentes, malignos vendidos às trevas. Jesus Cristo Senhor nosso e por isso o nosso Salvador, como o revela Martinho Lutero em seu Catecismo Maior, pois o Cristo é um Senhor sui generis, pois que tem domínio, contudo pela espécie contrária (sub contraria specie), não na dominação comum dos senhores e reis deste mundo, ao contrário, pelo serviço, serviço ao homem, sua mera criatura, a lavar os pés dos homens e querendo que nós lavemos os pés uns dos outros (São João 13, 14), sirvamos, em tudo amando e servindo até ao ponto de nossas vidas serem eucarísticas, isto é, de doação até a morte, se preciso for, por amor a Deus e por amor aos homens, da mesma maneira tal qual gostaríamos que dessem a vida por nós em nossas necessidades que podem ser as mais agudas. Também no protestantismo, meu caro amigo leitor, eu noto como a Igreja Católica teria uma visão para mim claramente equivocada de graça, pois que a graça tal qual expõe essa igreja deixa de ser um favor imerecido para ser uma dívida de Deus para com o homem, o que desnatura o que seja a graça (Romanos 11, 5). É bem conhecido o que a teologia católica diz da graça que Deus dá mais graça ao homem que esforça-se em fazer boas obras, entretanto, onde aí há a graça se na verdade parece que Deus está é endividando-se para com o homem? 

 

Bom, por enquanto é isso, meu excelente amigo, o que eu gostaria de a ti endereçar, sendo que já aqui despedindo-me de ti eu não poderia deixar de mencionar quanto à minha inclinação para a esquerda política, porquanto tu sabes o quanto o status quo, hoje, vigente no mundo transforma Deus e o homem em serviçais do capital que busca a acumulação e a circulação hoje no fetiche usurário do dinheiro a ser empregado quando é lembrada lá na ponta como meio das necessidades dos homens serem supridas, mas que na verdade o capital, o dinheiro, tornou-se o centro da relação do homem com Deus e dos homens entre eles mesmos sem qualquer correspondência com a necessária partilha, solidariedade e o suprir das necessidades do homem que é quem trabalha até a morte para por em circulação tal capital.

 

Um abraço, meu amigo.

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