Por Dani Marino
Bom, talvez o título seja um pouco pretensioso, já que não sei mesmo se é possível driblar a bipolaridade, mas acredito que seja possível conviver com ela, por isso, resolvi fazer este balanço de 10 anos desde o diagnóstico.
Outro motivo forte que me levou a escrever este texto é o fato de ao longo destes anos algumas pessoas próximas e queridas também terem sido diagnosticadas com o mesmo problema e meu intuito é justamente dizer que não estamos sozinhos, que há uma luz no fim do túnel, ainda que não seja lá muito brilhante.
Na época do meu diagnóstico, há 10 anos, minha primeira reação foi procurar depoimentos de pessoas que sofriam do mesmo distúrbio, na esperança que pudessem me trazer sinais de que tudo ficaria bem, mas infelizmente, o que encontrei foi bem diferente: pessoas totalmente dependentes de medicamentos, incapazes de produzir, trabalhar e principalmente, pessoas com qualidade de vida muito ruim. Não era o que eu queria para mim.
Decidi me comprometer com o tratamento médico e que faria o possível para buscar a estabilidade emocional que me faltava. Este é o primeiro e mais importante passo: comprometimento com o tratamento. É bem complicado encontrar psiquiatras e psicólogos capazes e que você confie, mas uma vez que você encontre, eles poderão lhe ajudar significativamente.
O segundo passo e talvez o mais difícil seja justamente encontrar a medicação adequada. É complicadíssimo em alguns casos, desmotivador, doloroso, mas a adequação dos medicamentos é imprescindível para a obtenção de um bom resultado. O mais comum é que o médico indique um estabilizador de humor e um antidepressivo. Antidepressivos sozinhos são perigosos em casos de TBH (transtorno bipolar do humor), pois além de não tratarem a depressão bipolar, ainda podem levar o paciente a uma crise de euforia. Por isso é importante o uso de um estabilizador de humor.
Eu experimentei vários sem sucesso:
Lítio : me causava vômitos, tontura e enjoos sem fim. Não podia nem beber água sem vomitar em seguida.
Luvoxamina: Muita tontura e não ajudou a estabilizar o humor.
Paroxetina: Também não me estabilizou e causava queda de libido.
Topiramato: Problemas sérios de memória e de cognição ( havia vezes que eu não conseguia entender o que as pessoas falavam, em Português mesmo).
E finalmente a lamotrigina, que me causou sintomas horríveis no período de adaptação, mas que me manteve estável enquanto eu tomei. Eu tive diarreia severa e vertigens fortes que me mantiveram em casa por dois meses, ou seja, se tivesse que voltar a tomar qualquer um desses medicamentos e passar pelo mesmo processo de adaptação, a menos que ficasse internada e alguém pudesse tomar conta da minha filha, não haveria como seguir o tratamento. Passar por estes períodos é extremamente inviável para quem tem filhos pequenos e não tem com quem deixá-los, como é o meu caso, ou seja, uma razão forte para que muitas mães não procurem tratamento.
Além dos efeitos colaterais que os medicamentos causam, um dos principais motivos para alguém que sofre de TBH não se tratar é o medo de se tornar apático e passivo diante da vida ou então, de ficar com aquele olhar vidrado e cara de bobo, típicos de quem costuma tomar certos psicotrópicos. Isso também pode acontecer, mas os benefícios do tratamento certo combinado com psicoterapia costumam ser maiores que as desvantagens.
Acho importante mencionar que a terapia é essencial no tratamento e em meu caso foi fundamental. Os remédios tratam os sintomas, mas a terapia aponta quais são os gatilhos e mecanismos que desencadeiam uma crise. O autoconhecimento é a arma mais eficaz na luta contra os sintomas agressivos da bipolaridade.
Percebi que as crises mais fortes e duradouras eram cíclicas. Voltavam sempre no mesmo período do ano e a partir desta constatação, eu consegui começar a lidar com elas de forma mais consciente. Como a bipolaridade não tem cura, o ideal é que o tratamento seja feito para o resto da vida, porém, o altíssimo custo do tratamento que envolve consultas em bons psiquiatras, terapia e medicamentos caros (infelizmente os mais eficazes costumam ser os mais novos, sendo assim, mais caros também), acaba levando muitos pacientes a abandonarem tudo.
Eu estou há 5 anos sem fazer tratamento. Mantenho um calmante por perto em caso de ter que lidar com situações extremas, mas estou estável, sem passar por crises fortes. As alterações de humor sempre existirão. Euforia e depressão também, mas aprendi a lidar com elas e aprendi que algumas mudanças são muito importantes para que eu possa ter uma boa qualidade de vida.
Aí você pode pensar que eu sofro do tipo mais leve do transtorno (existem níveis e tipos) e que por isso deve ser fácil estar sem tomar remédios e a resposta é não! Infelizmente sofro do tipo mais severo, aquele que a pessoa vai da carta suicida (não só as escrevi como cheguei muito perto de consumar o fato) aos delírios de grandeza, beirando esquizofrenia. Fui de um polo ao outro por incontáveis vezes. Já coloquei tudo a perder, cometi erros irreparáveis e fico extremamente feliz quando alguém duvida que eu seja bipolar, porque significa que minha luta diária alcança os objetivos esperados. A verdade é que os inúmeros “amigos” que fiz enquanto estava eufórica também duvidam que eu possa trabalhar, cuidar de filho ou realizar qualquer atividade adulta de forma séria e responsável, porque me conheceram surtada.
Quanto a apatia que eu havia mencionado, ela é real e leva muitos pacientes a questionarem se valeria a pena se tratar e correr o risco de não sentir o êxtase da euforia novamente. Quando ficava apática, não sentia prazer em absolutamente nada e não conseguia me emocionar com o que quer que fosse. Se alguém assassinasse uma criança na minha frente eu teria a mesma reação que tinha ao tomar um copo d’água. Sou do tipo de pessoa que se emociona até com comercial de pasta de dente (tá, nem tanto!), por isso, sei que se nada me toca é porque devo estar apática. O fato é que a realidade NUNCA será tão colorida quanto costumamos experimentar durante uma crise de euforia. Para lidar com isso, acho que só terapia, mas é realmente muito difícil aceitar que você nunca mais irá experimentar o êxtase, a felicidade enorme que uma crise de euforia pode proporcionar. Em uma comparação, essas crises se assemelham ao que ocorre quando alguém usa ecstasy ou cocaína. É bom demais, só que os efeitos que estes episódios causam ao cérebro e ao corpo também são igualmente devastadores. Quanto mais intensa a euforia, mais intensa será a depressão que vem em seguida. Todos os abusos cometidos durante a euforia são sentidos quando seu efeito passa, tal qual o que ocorre quando os efeitos das drogas acabam.
Talvez, uma das coisas mais difíceis de lidar seja a culpa de não se sentir tão feliz quanto você acha que deveria quando algo sensacional ocorre. Depois de viver o êxtase estúpido causado pela euforia após a compra de um vestido caríssimo que você nem tem como pagar (outra característica devastadora da doença: total perda de controle com gastos), você acredita que o nascimento de um filho, sua formatura, o dia do seu casamento ou a compra do seu apartamento poderiam te deixar ainda mais feliz, mas a verdade é que não existe sensação real que se compare ao que ocorre no cérebro quando está sob efeito da euforia e isso é horrível. A felicidade é real, mas êxtase não é algo corriqueiro e você já gastou sua cota durante as crises, ou seja, se sentirá extremamente feliz, experimentará sensações únicas e verdadeiras, causadas por situações reais.... Mas como disse, a realidade nunca mais será tão vibrante e colorida, o que não significa que passará a ser morna e sem graça.
Bom, o que tenho feito para lidar com tudo isso? Além da terapia que foi o que me ajudou a identificar o que desencadeia grande parte das crises, tive que aceitar que meus limites são diferentes das pessoas que não sofrem de nenhum tipo de distúrbio (poucas pessoas!). Sei que tenho que evitar situações de stress, que manter uma rotina (odeio rotinas!) é tão imprescindível quanto uma boa qualidade de sono. Boa alimentação e exercícios físicos podem gerar resultados semelhantes aos dos medicamentos e obviamente, evitar drogas, bebidas e afins.
Ter o suporte de amigos e principalmente dos familiares nos dá forças para continuar lutando todos os dias e o reconhecimento de que devemos lutar um dia de cada vez também funciona. No entanto, não há como não tomar remédios e ficar impune: vivo com a sensação de que sou um vaso de porcelana chinesa remendado e que a qualquer momento posso quebrar definitivamente. É ruim, bem ruim. Me sinto extremamente frágil e vulnerável na maior parte do tempo. Tenho que me policiar 100% do tempo e isso cansa. Desenvolvi uma forte tendência à paranoia seguida de pânico que me causa sintomas psicossomáticos como diarreia, palpitação, falta de ar e sensação de morte. Tenho gastrite nervosa, hipotireoidismo, fibromialgia e intolerância a lactose.... Tudo isso é reflexo do meu esforço diário em me manter lúcida, estável e no meu ponto de vista, vale muito mais a pena do que tomar psicotrópicos com efeitos colaterais irreversíveis ou extremamente desconfortáveis. Todos estes outros problemas são tratáveis com medicamentos leves, dieta, exercícios físicos e me causam muito menos problemas que as crises de depressão ou de euforia.
Tenho alprazolan e stilnox por perto. O Alprazolan é um calmante que em caso de emergência como princípio de pânico, taquicardia ou até mesmo quando bate uma depressão meio desesperada, ajuda bem. O stillnox é um hipnótico usado para tratamento de insônia que me força a dormir caso eu perceba que esteja ficando eufórica. Durante as crises de euforia é comum não sentir sono e ter uma disposição interminável, por isso, forçar o sono também ajuda a estabilizar o humor. Já cheguei a jogar fora caixas fechadas dos dois, porque realmente não preciso. Só uso mesmo em caso de emergências, o que ocorre muito raramente. Talvez 3 vezes por ano, não sei.
Minha última psiquiatra também me disse que um estudo constatou que após a gravidez, as mulheres tendiam a ficar mais estáveis e isso pode ser verdade. Tanto a intensidade quanto a quantidade de crises não se comparam ao que ocorria antes da gravidez. Foi ela que me alertou para a importância da rotina e da boa qualidade do sono.
Por fim, uma frase simples, dita pela minha amiga Andressa durante uma das minhas crises de depressão foi algo que mudou minha perspectiva e certamente mudou algo em meu cérebro de forma que eu nunca mais tive impulsos suicidas: “O instinto mais primitivo do ser humano é o de sobrevivência”. Mesmo suicidas, quando pulam de prédios, tentam voltar atrás e isso é constatado com a quantidade de marcas de unhas em paredes quando a pessoa tenta se agarrar e voltar. Quando temos filhos, pelo menos em meu caso, o medo de morrer se torna algo tão forte que isso naturalmente acaba afastando qualquer ideia suicida, mas o fato é que se você racionalmente entender que seu instinto mais básico e primitivo é o de viver, seu cérebro irá entender que a vontade de morrer é uma característica anormal, de uma mente doente. Quando entendemos que estamos doentes, entendemos que precisamos de ajuda e conseguimos visualizar perspectivas: conseguimos enxergar a luz no fim do túnel, mesmo que não seja tão brilhante!
Quando entendemos que estamos doentes, entendemos que precisamos de ajuda e conseguimos visualizar perspectivas: conseguimos enxergar a luz no fim do túnel, mesmo que não seja tão brilhante!
Bom, talvez o título seja um pouco pretensioso, já que não sei mesmo se é possível driblar a bipolaridade, mas acredito que seja possível conviver com ela, por isso, resolvi fazer este balanço de 10 anos desde o diagnóstico.
Outro motivo forte que me levou a escrever este texto é o fato de ao longo destes anos algumas pessoas próximas e queridas também terem sido diagnosticadas com o mesmo problema e meu intuito é justamente dizer que não estamos sozinhos, que há uma luz no fim do túnel, ainda que não seja lá muito brilhante.
Na época do meu diagnóstico, há 10 anos, minha primeira reação foi procurar depoimentos de pessoas que sofriam do mesmo distúrbio, na esperança que pudessem me trazer sinais de que tudo ficaria bem, mas infelizmente, o que encontrei foi bem diferente: pessoas totalmente dependentes de medicamentos, incapazes de produzir, trabalhar e principalmente, pessoas com qualidade de vida muito ruim. Não era o que eu queria para mim.
Decidi me comprometer com o tratamento médico e que faria o possível para buscar a estabilidade emocional que me faltava. Este é o primeiro e mais importante passo: comprometimento com o tratamento. É bem complicado encontrar psiquiatras e psicólogos capazes e que você confie, mas uma vez que você encontre, eles poderão lhe ajudar significativamente.
O segundo passo e talvez o mais difícil seja justamente encontrar a medicação adequada. É complicadíssimo em alguns casos, desmotivador, doloroso, mas a adequação dos medicamentos é imprescindível para a obtenção de um bom resultado. O mais comum é que o médico indique um estabilizador de humor e um antidepressivo. Antidepressivos sozinhos são perigosos em casos de TBH (transtorno bipolar do humor), pois além de não tratarem a depressão bipolar, ainda podem levar o paciente a uma crise de euforia. Por isso é importante o uso de um estabilizador de humor.
Eu experimentei vários sem sucesso:
Lítio : me causava vômitos, tontura e enjoos sem fim. Não podia nem beber água sem vomitar em seguida.
Luvoxamina: Muita tontura e não ajudou a estabilizar o humor.
Paroxetina: Também não me estabilizou e causava queda de libido.
Topiramato: Problemas sérios de memória e de cognição ( havia vezes que eu não conseguia entender o que as pessoas falavam, em Português mesmo).
E finalmente a lamotrigina, que me causou sintomas horríveis no período de adaptação, mas que me manteve estável enquanto eu tomei. Eu tive diarreia severa e vertigens fortes que me mantiveram em casa por dois meses, ou seja, se tivesse que voltar a tomar qualquer um desses medicamentos e passar pelo mesmo processo de adaptação, a menos que ficasse internada e alguém pudesse tomar conta da minha filha, não haveria como seguir o tratamento. Passar por estes períodos é extremamente inviável para quem tem filhos pequenos e não tem com quem deixá-los, como é o meu caso, ou seja, uma razão forte para que muitas mães não procurem tratamento.
Além dos efeitos colaterais que os medicamentos causam, um dos principais motivos para alguém que sofre de TBH não se tratar é o medo de se tornar apático e passivo diante da vida ou então, de ficar com aquele olhar vidrado e cara de bobo, típicos de quem costuma tomar certos psicotrópicos. Isso também pode acontecer, mas os benefícios do tratamento certo combinado com psicoterapia costumam ser maiores que as desvantagens.
Acho importante mencionar que a terapia é essencial no tratamento e em meu caso foi fundamental. Os remédios tratam os sintomas, mas a terapia aponta quais são os gatilhos e mecanismos que desencadeiam uma crise. O autoconhecimento é a arma mais eficaz na luta contra os sintomas agressivos da bipolaridade.
Percebi que as crises mais fortes e duradouras eram cíclicas. Voltavam sempre no mesmo período do ano e a partir desta constatação, eu consegui começar a lidar com elas de forma mais consciente. Como a bipolaridade não tem cura, o ideal é que o tratamento seja feito para o resto da vida, porém, o altíssimo custo do tratamento que envolve consultas em bons psiquiatras, terapia e medicamentos caros (infelizmente os mais eficazes costumam ser os mais novos, sendo assim, mais caros também), acaba levando muitos pacientes a abandonarem tudo.
Eu estou há 5 anos sem fazer tratamento. Mantenho um calmante por perto em caso de ter que lidar com situações extremas, mas estou estável, sem passar por crises fortes. As alterações de humor sempre existirão. Euforia e depressão também, mas aprendi a lidar com elas e aprendi que algumas mudanças são muito importantes para que eu possa ter uma boa qualidade de vida.
Aí você pode pensar que eu sofro do tipo mais leve do transtorno (existem níveis e tipos) e que por isso deve ser fácil estar sem tomar remédios e a resposta é não! Infelizmente sofro do tipo mais severo, aquele que a pessoa vai da carta suicida (não só as escrevi como cheguei muito perto de consumar o fato) aos delírios de grandeza, beirando esquizofrenia. Fui de um polo ao outro por incontáveis vezes. Já coloquei tudo a perder, cometi erros irreparáveis e fico extremamente feliz quando alguém duvida que eu seja bipolar, porque significa que minha luta diária alcança os objetivos esperados. A verdade é que os inúmeros “amigos” que fiz enquanto estava eufórica também duvidam que eu possa trabalhar, cuidar de filho ou realizar qualquer atividade adulta de forma séria e responsável, porque me conheceram surtada.
Quanto a apatia que eu havia mencionado, ela é real e leva muitos pacientes a questionarem se valeria a pena se tratar e correr o risco de não sentir o êxtase da euforia novamente. Quando ficava apática, não sentia prazer em absolutamente nada e não conseguia me emocionar com o que quer que fosse. Se alguém assassinasse uma criança na minha frente eu teria a mesma reação que tinha ao tomar um copo d’água. Sou do tipo de pessoa que se emociona até com comercial de pasta de dente (tá, nem tanto!), por isso, sei que se nada me toca é porque devo estar apática. O fato é que a realidade NUNCA será tão colorida quanto costumamos experimentar durante uma crise de euforia. Para lidar com isso, acho que só terapia, mas é realmente muito difícil aceitar que você nunca mais irá experimentar o êxtase, a felicidade enorme que uma crise de euforia pode proporcionar. Em uma comparação, essas crises se assemelham ao que ocorre quando alguém usa ecstasy ou cocaína. É bom demais, só que os efeitos que estes episódios causam ao cérebro e ao corpo também são igualmente devastadores. Quanto mais intensa a euforia, mais intensa será a depressão que vem em seguida. Todos os abusos cometidos durante a euforia são sentidos quando seu efeito passa, tal qual o que ocorre quando os efeitos das drogas acabam.
Talvez, uma das coisas mais difíceis de lidar seja a culpa de não se sentir tão feliz quanto você acha que deveria quando algo sensacional ocorre. Depois de viver o êxtase estúpido causado pela euforia após a compra de um vestido caríssimo que você nem tem como pagar (outra característica devastadora da doença: total perda de controle com gastos), você acredita que o nascimento de um filho, sua formatura, o dia do seu casamento ou a compra do seu apartamento poderiam te deixar ainda mais feliz, mas a verdade é que não existe sensação real que se compare ao que ocorre no cérebro quando está sob efeito da euforia e isso é horrível. A felicidade é real, mas êxtase não é algo corriqueiro e você já gastou sua cota durante as crises, ou seja, se sentirá extremamente feliz, experimentará sensações únicas e verdadeiras, causadas por situações reais.... Mas como disse, a realidade nunca mais será tão vibrante e colorida, o que não significa que passará a ser morna e sem graça.
Bom, o que tenho feito para lidar com tudo isso? Além da terapia que foi o que me ajudou a identificar o que desencadeia grande parte das crises, tive que aceitar que meus limites são diferentes das pessoas que não sofrem de nenhum tipo de distúrbio (poucas pessoas!). Sei que tenho que evitar situações de stress, que manter uma rotina (odeio rotinas!) é tão imprescindível quanto uma boa qualidade de sono. Boa alimentação e exercícios físicos podem gerar resultados semelhantes aos dos medicamentos e obviamente, evitar drogas, bebidas e afins.
Ter o suporte de amigos e principalmente dos familiares nos dá forças para continuar lutando todos os dias e o reconhecimento de que devemos lutar um dia de cada vez também funciona. No entanto, não há como não tomar remédios e ficar impune: vivo com a sensação de que sou um vaso de porcelana chinesa remendado e que a qualquer momento posso quebrar definitivamente. É ruim, bem ruim. Me sinto extremamente frágil e vulnerável na maior parte do tempo. Tenho que me policiar 100% do tempo e isso cansa. Desenvolvi uma forte tendência à paranoia seguida de pânico que me causa sintomas psicossomáticos como diarreia, palpitação, falta de ar e sensação de morte. Tenho gastrite nervosa, hipotireoidismo, fibromialgia e intolerância a lactose.... Tudo isso é reflexo do meu esforço diário em me manter lúcida, estável e no meu ponto de vista, vale muito mais a pena do que tomar psicotrópicos com efeitos colaterais irreversíveis ou extremamente desconfortáveis. Todos estes outros problemas são tratáveis com medicamentos leves, dieta, exercícios físicos e me causam muito menos problemas que as crises de depressão ou de euforia.
Tenho alprazolan e stilnox por perto. O Alprazolan é um calmante que em caso de emergência como princípio de pânico, taquicardia ou até mesmo quando bate uma depressão meio desesperada, ajuda bem. O stillnox é um hipnótico usado para tratamento de insônia que me força a dormir caso eu perceba que esteja ficando eufórica. Durante as crises de euforia é comum não sentir sono e ter uma disposição interminável, por isso, forçar o sono também ajuda a estabilizar o humor. Já cheguei a jogar fora caixas fechadas dos dois, porque realmente não preciso. Só uso mesmo em caso de emergências, o que ocorre muito raramente. Talvez 3 vezes por ano, não sei.
Minha última psiquiatra também me disse que um estudo constatou que após a gravidez, as mulheres tendiam a ficar mais estáveis e isso pode ser verdade. Tanto a intensidade quanto a quantidade de crises não se comparam ao que ocorria antes da gravidez. Foi ela que me alertou para a importância da rotina e da boa qualidade do sono.
Por fim, uma frase simples, dita pela minha amiga Andressa durante uma das minhas crises de depressão foi algo que mudou minha perspectiva e certamente mudou algo em meu cérebro de forma que eu nunca mais tive impulsos suicidas: “O instinto mais primitivo do ser humano é o de sobrevivência”. Mesmo suicidas, quando pulam de prédios, tentam voltar atrás e isso é constatado com a quantidade de marcas de unhas em paredes quando a pessoa tenta se agarrar e voltar. Quando temos filhos, pelo menos em meu caso, o medo de morrer se torna algo tão forte que isso naturalmente acaba afastando qualquer ideia suicida, mas o fato é que se você racionalmente entender que seu instinto mais básico e primitivo é o de viver, seu cérebro irá entender que a vontade de morrer é uma característica anormal, de uma mente doente. Quando entendemos que estamos doentes, entendemos que precisamos de ajuda e conseguimos visualizar perspectivas: conseguimos enxergar a luz no fim do túnel, mesmo que não seja tão brilhante!