Resumo: Nesse artigo Paul Vitz se contrapõe aos psicólogos da religião e suas tentativas de desvendar as origens psicológicas das crenças religiosas. Paul Vitz examina as raízes psicológicas do ateísmo e questiona a validade das conclusões de Sigmund Freud, e Feuerbach, em relação à religião. Artigo essencial para não só psicólogos mas todos interessados em religião e cultura. Professor Paul Vitz, Ph.D (Stanford University, 1962) é professor de Psicologia da Universidade de Nova Iorque. É membro da Comunidade de Acadêmicos Católicos e mantêm contato com muitos Protestantes, e Judeus. Além disso estuda como a religião se relaciona com a psicologia, e também se envolve na temática psicologia e arte.
Texto original: The Psychology of Atheism
Tradução: Vitor Grando
O título desse ensaio, “Psicologia do Ateísmo”¹, pode parecer estranho. Certamente, meus colegas na psicologia acharam incomum e até, devo acrescentar, um pouco perturbador. A psicologia, desde sua fundação há um século atrás, freqüentemente se preocupou com o tópico oposto – a psicologia da crença religiosa. De fato, em muitos aspectos a origem da psicologia moderna está intrinsecamente ligada com os psicólogos que explicitamente propuseram interpretações da crença em Deus.
William James e Sigmund Freud, por exemplo, estavam pessoal e profissionalmente envolvidos profundamente na questão. Lembre-se de A Vontade de Crer de James, como também do seu famoso As Variedades das Experiências Religiosas. Essas duas obras são tentativas de entender a crença como resultado de causas psicológicas, ou seja, causas naturais. James pode até ter sido compassivo com a religião, mas sua posição pessoal era de dúvida e ceticismo e seus escritos eram parte de uma tentativa psicológica de menosprezar a fé religiosa. As criticas de Sigmund Freud à religião, especialmente o cristianismo, são bem conhecidas e serão discutidas com mais detalhes mais a frente. Por hora, é suficiente lembrar quão profundamente envolvidos com a questão de Deus e a religião, Freud e seus pensamentos estavam.
Tendo em vista o estreito envolvimento entre os fundadores da psicologia e a interpretação critica da religião, não é de se surpreender que muitos dos psicólogos vejam com certa desconfiança qualquer tentativa de propor uma psicologia do ateísmo. No mínimo, um projeto como esse coloca os psicólogos na defensiva e os oferece um pouco do seu próprio veneno. Os psicólogos estão sempre observando e interpretando os outros e já é hora de alguns deles aprenderem a partir de suas próprias experiências como é estar sob a mira da teoria e experimentação psicológicas. Eu espero demonstrar que muitos dos conceitos psicológicos utilizados para interpretar a religião são espadas de dois gumes, que podem também ser usados para interpretar o ateísmo. O que vale para o crente, igualmente vale para o descrente.
Antes de começar, entretanto, eu quero fazer dois pontos que estão por trás das minhas pressuposições. Primeiro, eu creio que as maiores barreiras para a crença em Deus não são racionais, mas – num sentido geral – podem ser chamadas de psicológicas. Não quero ofender nenhum filósofo distinto – tanto crentes quanto descrentes – nesse auditório, mas eu estou plenamente convencido que para cada pessoa fortemente convencida por argumentos racionais existem muitas, muitas mais afetadas por fatores psicológicos não-racionais.
Ninguém pode decifrar o coração humano e seus caminhos, mas ao menos é tarefa da psicologia tentar. Dessa forma, para começar, eu proponho que barreiras neurótico-psicológicas para a crença em Deus são de grande importância. Quais são elas mencionarei brevemente. Para os crentes é importante ter em mente que motivações e pressões psicológicas que muitos podem nem sequer se dar conta, muitas vezes estão por trás da descrença.
Um dos mais antigos teóricos do inconsciente, São Paulo, escreveu, “com efeito o querer bem está em mim, mas o efetuá-lo não está…mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros” Romanos 7.18,23. Assim, me parece que tanto pela teologia quanto pela psicologia fatores psicológicos podem ser impedimentos à crença como também ao comportamento, e que esses fatores freqüentemente são inconscientes. Além disso, é razoável dizer que as pessoas variam extensamente na intensidade da presença desses fatores em suas vidas. Alguns de nós fomos abençoados com uma boa criação, um bom temperamento, envolvimento social, e outros dons que fizeram da crença em Deus algo muito mais fácil do que para muitos que sofreram mais ou cresceram num ambiente pobre espiritualmente ou tiveram outras dificuldades com as quais lidar. As Escrituras deixam claro que muitas crianças – até a terceira ou quarta geração – sofrem dos pecados dos pais, incluindo os pecados dos pais que foram crentes. Resumidamente, meu primeiro ponto é que algumas pessoas têm barreiras psicológicas para a crença muito mais sérias do que outras, um ponto consistente com a afirmação clara das Escrituras de que nós não devemos julgar os outros, entretanto somos instados a corrigir o mal.
Meu segundo ponto é que apesar de sérias dificuldades para a crença, todos nós ainda temos a livre escolha de aceitar Deus ou rejeitá-lo. Esse ponto não está em contradição com o primeiro. Talvez um pouco mais de elaboração vai esclarecer esse ponto. Uma pessoa, como conseqüência do seu passado, envolvimento presente, etc., pode achar muito mais difícil acreditar em Deus do que a maioria das pessoas. Mas presumivelmente, a qualquer momento, certamente em muitos momentos, ela pode escolher se mover em direção a Deus ou pra longe dele. Um homem pode começar com tantas barreiras que mesmo depois de anos caminhando vagarosamente em direção a Deus ele ainda não esteja lá. Alguns podem morrer antes de alcançar a crença. Nós acreditamos que eles serão julgados – como todos nós – quão longe eles viajaram em direção a Deus e quão bem amaram os outros – o que eles fizeram com o que lhes foi dado. Da mesma forma, um outro homem sem dificuldades psicológicas ainda é livre para rejeitar Deus, e sem dúvidas muitos o fazem. Assim, apesar de que no fundo a questão é da vontade do homem e de nossa natureza pecaminosa, ainda é possível investigar os fatores psicológicos que predispõe alguém para a descrença, que faz a estrada em direção a Deus dura e difícil.
Psicologia do Ateísmo: Motivações Psicológicas e Sociais
Parece haver uma crença bem difundida na comunidade intelectual ocidental de que a crença em Deus é baseada em todos os tipos de desejos e necessidades imaturas, mas o ateísmo e o ceticismo são derivados de uma observação racional das coisas como elas são realmente. Para começar uma critica dessa idéia, eu começo com a minha própria história.
Como alguns de vocês sabem, depois de uma frágil criação cristã, eu me tornei ateu na faculdade nos anos 1950 e permaneci assim durante minha graduação e meus primeiros anos como um jovem psicólogo experimental na New York University. Isto é, eu sou um convertido adulto ou, mais tecnicamente, um reconvertido ao Cristianismo que voltou para a fé, para sua própria surpresa, no final dos meus 30 anos no meio do desenvolvimento secular da psicologia acadêmica em Nova Iorque.
Não estou entrando nisso para entediá-los com partes da história da minha vida, mas para mostrar que através da reflexão sobre minha própria experiência, é claro para mim que as minhas razões para se tornar e permanecer ateu-cético dos 18 aos 38 anos foram superficiais, irracionais e sem integridade moral e intelectual. Além do mais, eu estou convencido de que minhas motivações foram, e ainda são, um lugar comum entre os intelectuais especialmente cientistas sociais.
Os principais fatores envolvidos na minha escolha pelo ateísmo – apesar de eu não estar ciente na época – foram as seguintes:
Socialização geral. Uma influência importante na minha juventude foi uma significante inquietação social. Eu estava de certa forma envergonhado de ser do centro-oeste, pois parecia terrivelmente obtuso, limitado e interiorano. Não havia nada de romântico ou impressionante em ser de Cincinnati, Ohio e de uma origem Germano-Anglo-Suiça. Terrivelmente classe-média. Além de escapar do obtuso, e segundo eu mesmo sem-valor, passado social vergonhoso, eu queria fazer parte, de fato estar confortável no novo, excitante e glamouroso mundo secular para o quão eu estava me dirigindo. Eu estou certo de que motivações similares fortemente influenciaram as vidas de um sem-número de jovens emergentes nos últimos dois séculos. Veja Voltaire, que se mudou para o aristocrático e sofisticado mundo de Paris, e que sempre se sentiu envergonhado de sua origem interiorana e não-aristocrática; ou dos guetos Judeus para os quais muitos judeus fugiram, ou da chegada dos jovens a Nova Iorque, envergonhados de seus pais fundamentalistas. Esse tipo de pressão social afastou muitos da crença em Deus e tudo com o que a crença nele está relacionada.
Eu me lembro de um pequeno seminário na minha graduação no qual quase todos os membros expressavam algum tipo de vergonha devido às pressões da socialização na “vida moderna”. Um estudante tentava fugir de seu passado Batista, um outro de uma comunidade Mórmon, um terceiro fugia de seu gueto judeu, e o quarto era eu.
Socialização especifica. Uma outra grande razão para eu querer me tornar ateu foi que eu desejava ser aceito pelos poderosos e influentes cientistas do campo da psicologia. Em particular, eu queria ser aceito pelos meus professores. Como um estudante eu estava profundamente socializado com a cultura de pesquisa da psicologia acadêmica. Meus professores em Stanford, apesar de discordarem muito entre si no que se refere às teorias psicológicas, estavam unidos em apenas duas coisas – uma intensa ambição profissional e a rejeição da religião. Como diz o salmista, “Pois o ímpio gloria-se do desejo do seu coração, e o que é dado à rapina despreza e maldiz o Senhor. Por causa do seu orgulho, o ímpio não o busca; todos os seus pensamentos são: Não há Deus”.(Salmo 10.3-4).
No desenvolver disso tudo, assim como eu aprendi a me vestir como um estudante universitário colocando as roupas adequadas, eu também aprendi a “pensar” como um psicólogo adotando as idéias e atitudes corretas – isto é, idéias e atitudes ateístas.
Conveniência pessoal. Finalmente, nessa lista de superficiais, mas não menos fortes pressões irracionais para se tornar ateu, eu devo listar simplesmente a conveniência pessoal. A verdade é que é bastante inconveniente ser um crente devoto na cultura poderosa e neo-pagã da atualidade. Eu teria que abrir mão de muitos prazeres e de tempo útil. Sem entrar em detalhes não é difícil de imaginar os prazeres sexuais que teriam que ser rejeitados se eu me tornasse um crente devoto. E também eu sabia que me custaria tempo e algum dinheiro. Haveria cultos, grupos de comunhão, tempo de oração e leitura das Escrituras, tempo gasto ajudando os outros. Eu já estava por demais ocupado. Obviamente, se tornar religioso seria uma verdadeira inconveniência.
Agora talvez você pense que razões como essas estão restritas a jovens imaturos – como eu nos meus vinte e poucos anos. Entretanto, essas razões não são tão restritas. Tomo como exemplo o caso de Mortimer Adler, um conhecido filósofo Americano, escritor, e intelectual que gastou boa parte de sua vida pensando sobre Deus e a temática religiosa. Um de seus livros mais recentes é intitulado How to Think About God: A Guide for the 20th Century Pagan (1980) (Como pensar sobre Deus: Um guia para o pagão do século XX). Nessa obra, Adler examina minuciosamente os argumentos para a existência de Deus e nos capítulos finais ele está próximo a aceitar o Deus vivo. Ainda assim ele recua e continua entre “a vasta companhia dos religiosos não-comprometidos) (Graddy, 1982). Mas Adler deixa a impressão de que essa decisão é mais da vontade do que do intelecto. Como um de seus resenhistas notou (Graddy, 1982), Adler confirma essa impressão em sua autobiografia, Philosopher at Large (1976). Nessa obra, enquanto investiga as razões para já duas vezes parar quando esteve próximo de um comprometimento religioso, ele escreve que a resposta “está na vontade, e não na mente”. Adler vai além e comenta que se tornar seriamente religioso “requereria uma mudança radical no meu estilo de vida…” e “A verdade simples da questão é que eu não desejava viver como uma pessoa genuinamente religiosa.” (Graddy, p.24).²
Ai está! Uma memorável admissão honesta e consciente de que ser “uma pessoa genuinamente religiosa” seria muito problemático e muito inconveniente. Tais são as razões por detrás de muito do ceticismo dos descrentes.
Resumidamente, por causa das minhas necessidades sociais, por causa das minhas necessidades profissionais de ser aceito como parte da psicologia acadêmica, e por causa das minhas necessidades por um estilo de vida conveniente – por todas essas necessidades o ateísmo era simplesmente a melhor escolha. Refletindo sobre essas motivações, eu posso afirmar honestamente que um retorno ao ateísmo é o mesmo do que um retorno à adolescência.
A Psicologia do Ateísmo: Motivações psicanalíticas.
Como sabemos, o centro da critica Freudiana à crença em Deus é que tal crença não é confiável por causa de sua origem psicológica. Isto é, Deus é uma projeção de nossos próprios e intensos desejos inconscientes; Ele é a satisfação de um desejo derivado das necessidades infantis de proteção e segurança. Visto que esses desejos são inconscientes, não deve ser dado muito crédito a qualquer negação de tal interpretação. Devemos notar que ao desenvolver esse tipo de crítica, Freud formulou um argumento ad hominem de grande influência. É na obra O Futuro de Uma Ilusão (1927, 1961) que Freud explica sua posição:
Idéias religiosas surgiram das mesmas necessidades de que surgiram todos as conquistas da civilização: da necessidade de defender-se da impetuosa e superior força da natureza. (p.21)
Logo, crenças religiosas são:
Ilusões, satisfação dos mais antigos, mais fortes, e urgentes desejos da raça humana… Como já sabemos, a pavorosa impressão de abandono na infância fez surgir o desejo de proteção – de proteção pelo amor – que foi provida pelo pai… Dessa forma a benevolente regra de Providência Divina apazigua nosso medo dos perigos da vida. (p.30)
Vamos examinar esse argumento cuidadosamente, pois apesar da aceitação entusiástica do argumento pelos ateus e céticos não-críticos, é um argumento muito frágil.
No primeiro parágrafo Freud falha em notar que seu argumento contra as crenças religiosas é, em suas próprias palavras, igualmente válido contra todas as conquistas da civilização, incluindo a própria psicanálise. Isto é, a origem psíquica de uma conquista intelectual invalida sua veracidade, então a física, a biologia, e a própria psicanálise, são vulneráveis a mesma acusação.
No segundo parágrafo Freud faz outra alegação estranha, de que os mais antigos e urgentes desejos da humanidade são de proteção e orientação amorosa por um poderoso Pai de amor, pela divina Providência. Entretanto, se esses desejos fossem tão fortes e antigos como ele alega, era de se esperar que as religiões pré-cristãs enfatizassem Deus como um pai benevolente. Em geral, isso é bem distante do caso das religiões pagãs do mundo Mediterrâneo – e, por exemplo, ainda não é o caso em muitas religiões populares como o Budismo ou o Hinduísmo. De fato, o Judaísmo e mais especificamente o Cristianismo são em muitos aspectos distintos em sua ênfase em Deus como um Pai de amor.
Entretanto, deixemos de lado essas duas gafes intelectuais e voltemos para um outro entendimento da teoria da projeção de Freud. Pode ser demonstrado que essa teoria não é realmente parte integrante da psicanálise – e, dessa forma não tem a teoria psicanalítica como fundamento de apoio. É essencialmente um argumento autônomo. De fato, a atitude crítica de Freud em relação à religião é enraizada em suas predileções pessoais e é um tipo de meta-psicanálise – ou se origina em fundamentos sem relação com seus conceitos clínicos. (Essa separação ou autonomia em relação a muito da teoria psicanalítica muito provavelmente é responsável pela influência do argumento fora do âmbito da psicanálise). Existem duas evidências para essa interpretação da teoria da projeção.
A primeira é que essa teoria foi articulada claramente muitos anos antes por Ludwig Feuerbach em seu livro A Essência do Cristianismo (1841, 1957). A interpretação de Feuerbach foi popular no meio dos intelectuais europeus, e Freud, quando jovem, lia Feuerbach avidamente (veja Gedo & Pollock, 1976, pp.47,350) Seguem algumas significativas citações de Feuerbach que esclarecem isso:
O que o homem sente necessidade – seja essa uma necessidade articulada, portanto consciente, ou uma necessidade inconsciente – é Deus. (1841, 1957, p. 33)
O homem projeta sua natureza no mundo exterior a si mesmo antes de encontrá-lo dentro de si. (p.11)
Viver por meio de sonhos projetados é a essência da religião. A religião sacrifica a realidade em prol do sonho projetado. (p. 49)
Muitas outras citações de Feuerbach poderiam ser usadas para descrever a religião em termos “Freudianos” como satisfação-de-desejo (wish-fulfillment), etc. O que Freud fez com esse argumento foi reconstruí-lo em uma forma mais eloqüente, e publicá-lo num período posterior onde a audiência ansiosa por ouvir uma teoria como essa era muito maior. E, é claro, de alguma forma as descobertas e a própria teoria psicanalítica foram utilizadas como se apoiassem fortemente a teoria. O caráter Feuerbachiano da posição de Freud que taxa a religião de ilusão é demonstrado também em noções como “a esmagadora força superior da natureza” e a “apavorante impressão de desamparo na infância”, que não são psicanalíticas em terminologia ou sentido.
A outra evidência que comprova que as bases da teoria da projeção não são psicanalíticas, vem diretamente do próprio Freud, que explicitamente afirma isso. Numa carta escrita em 1927 para seu amigo Oskar Pfister (um antigo psicanalista e pastor protestante), Freud escreveu:
Vamos ser bem claros quanto à questão de que as opiniões difundidas em meu livro (O Futuro de uma Ilusão) não são parte da teoria analítica. São minhas visões pessoais. (Freud/Pfister, 1963, p; 117)
Há outra interpretação um pouco diferente da crença em Deus que Freud desenvolveu também, mas apesar de essa teoria ter um certo embasamento psicanalítico, é na verdade, ainda, uma adaptação da teoria Feuerbachiana da projeção. É a interpretação negligenciada de Freud quando ao ego ideal. O super-ego, incluindo o ego ideal é o “herdeiro do complexo de Édipo”, representando a projeção de um pai idealizado e presumivelmente do Deus-Pai (veja Freud, 1923, 1962, pp. 26-28; p.38)
A dificuldade aqui é que o ego ideal não recebeu muita atenção ou desenvolvimento nos escritos de Freud. Além do mais, é facilmente interpretado como uma adoção da teoria da projeção de Feuerbach. Assim, podemos concluir que a psicanálise na verdade não provê conceitos teóricos significativos para caracterizar a crença em Deus como neurótica. Freud tanto usou a antiga teoria de projeção ou ilusão de Feuerbach como incorporou Feuerbach em sua noção de ego ideal. Presumivelmente, essa é a razão por que Freud reconheceu a Pfister que seu livro O Futuro de uma Ilusão, não é parte integrante da psicanálise
Ateísmo como Satisfação-de-Desejo Edipiano
Apesar de tudo, Freud de certa forma está certo ao se preocupar que a crença em Deus possa ser uma ilusão por se derivar de desejos poderosos – tanto necessidades inconscientes quanto infantis. A ironia é que ele claramente proveu uma poderosa e nova forma de entender as bases neuróticas do ateísmo. (Para um desenvolvimento detalhado dessa posição veja Vitz e Gartner, 1984a, b; Vitz, 1986, in press.)
O Complexo de Édipo
O conceito central na obra de Freud, além do inconsciente, é o bem conhecido complexo de Édipo. No caso do desenvolvimento da personalidade masculina, os aspectos essenciais desse complexo são os seguintes: Por volta do período que vai dos três aos seis anos o filho desenvolve um forte desejo sexual pela mãe. Ao mesmo tempo o filho desenvolve um intenso ódio e medo do pai, e um desejo de substituí-lo, uma “ânsia por poder”. Esse ódio é baseado no conhecimento que o garoto tem de que o pai, com sua força e tamanho, obstrui o caminho do seu desejo. O medo da criança do pai pode explicitamente ser um medo de castração pelo pai, mas mais tipicamente, tem um caráter menos especifico. O filho não quer realmente matar o pai, é claro, mas é presumido que o patricídio é uma preocupação comum em suas fantasias e sonhos. A “solução” do complexo deve ocorrer através do reconhecimento de que ele não pode substituir o pai, e através do medo da castração, que eventualmente leva o garoto a se identificar com o pai, se identificar com o agressor, e recalcar os pavorosos componentes originais do complexo.
É importante ter em mente que, de acordo com Freud, o complexo de Édipo nunca é totalmente solucionado, e é passível de retorno em períodos posteriores – quase sempre, por exemplo, na puberdade. Assim os poderosos ingredientes do ódio homicida e do desejo sexual incestuoso no contexto familiar nunca são removidos de fato. Ao invés disso, eles são cobertos e recalcados. Freud explica o potencial neurótico dessa situação:
O complexo de Édipo é o núcleo da neurose… O que permanece do complexo no inconsciente representa a disposição ao desenvolvimento de neuroses no adulto. (Freud, 1919, Standard Edition, 17, 0. 193; also 1905, S.E. 7, p. 226ff; 1909, S.E., 11, p. 47)
Resumidamente, todas as neuroses humanas se derivam desse complexo. Obviamente, na maioria dos casos, esse potencial não é expresso em nenhuma maneira neurótica séria. Ao invés disso, o complexo é expresso na relação com autoridades, sonhos, atos falhos, irracionalidades transitórias, etc.
Agora, ao postular um complexo de Édipo universal como a origem de todas as neuroses, Freud inadvertidamente desenvolveu um entendimento racional da origem da rejeição de Deus na Satisfação-de-Desejo.
Além de tudo, o complexo de Édipo é inconsciente, é estabelecido na infância e, acima de tudo, sua motivação dominante é o ódio pelo pai e o desejo de sua não-existência, especificamente representada pelo desejo de substituí-lo ou matá-lo. Freud freqüentemente descrevia Deus como psicologicamente equivalente ao pai, então uma expressão natural da motivação Edipiana seriam desejos poderosos e inconscientes da não-existência de Deus. Logo, sob o ponto de vista Freudiano, o ateísmo é uma ilusão causada pelo desejo Edipiano de matar o pai e substituí-lo por si mesmo. Agir como se Deus não existisse é obviamente, uma máscara sutil do desejo de matá-lo, do mesmo modo num sonho, a imagem de um parente indo embora ou desaparecendo pode representar um desejo como esse: “Deus está morto” é simplesmente uma Satisfação-de-Desejo Edipiana desmascarada.
Certamente não é difícil de entender o caráter edipiano no ateísmo e ceticismo contemporâneos. Hugh Hefner, até James Bond, com sua rejeição a Deus mais suas inúmeras mulheres, estão obviamente vivendo o Édipo de Freud e a rebelião primitiva (e.g. Totem e Tabu). Assim também estão inúmeros outros céticos que vivem variações do mesmo cenário de permissividade sexual exploradora combinada com auto-adoração narcísica.
E, é claro, o sonho de Édipo não é apenas matar o pai e possuir a mãe ou outras mulheres no grupo, mas também retirá-lo de seu lugar. O Ateísmo moderno tem tentado alcançar isso. Agora o homem, não Deus, é conscientemente a fonte Última de bondade e força do universo. Filosofias humanistas glorificam o homem e seu “potencial” quase da mesma forma que a religião glorifica o Criador. Saímos de um Deus para vários deuses e agora cada um como deus. Essencialmente, o homem – através de seu narcisismo e desejos Edipianos – tem tentado fazer o que Satanás não conseguiu, se assentar no trono de Deus. Graças a Freud agora é mais fácil entender a profundidade neurótica e não confiável da descrença.
Um exemplo interessante da motivação Edipiana proposta aqui é Voltaire, um expoente do ceticismo que negou a noção judaico-cristã de um Deus pessoal – de Deus como Pai. Voltaire foi um teísta ou deísta que acreditava num Deus cósmico, impessoal de caráter desconhecido.
O questão psicológica importante sobre Voltaire é que ele insistentemente rejeitou seu pai – tanto que ele rejeitou o nome de seu pai e usou o nome “Voltaire”. Não é certo de onde o nome veio, mas uma interpretação aceita pela maioria é que o nome foi construído a partir das letras do sobrenome de sua mãe. Quando Voltaire estava nos seus vinte anos (em 1718), ele publicou uma peça intitulada “Édipo”, a primeira de suas peças a ser apresentada ao público. A peça reconta a clássica lenda com fortes alusões a rebelião religiosa e política. Por toda sua vida, Voltaire (assim como Freud) brincou com a idéia de que ele não era filho de seu pai. Ele aparentemente ansiava por ser de uma família aristocrática e mais importante do que sua família de classe média. (Uma expressão dessa preocupação de ter um pai mais digno é a peça Cândido). Resumidamente, a hostilidade de Voltaire ao seu próprio pai, sua rejeição religiosa ao Deus-Pai, e sua rejeição política do rei – também uma figura do pai – são todas reflexões dos mesmos desejos básicos. Psicologicamente falando, a rebelião de Voltaire contra seu pai e contra Deus são facilmente interpretadas como Satisfação-de-Desejo Edipiana, como ilusões confortadoras, e logo, seguindo Freud, como crenças e atitudes indignas da mente madura.
Diderot, o grande Enciclopedista e um renomado ateu – de fato ele é um dos fundadores do ateísmo moderno – também tinha insights e preocupações Edipianas. Freud em tom de aprovação cita a observação de Diderot:
Se o pequeno bárbaro fosse deixado por si mesmo, preservando toda sua tolice e adicionando ao pequeno sentido de criança no berço as violentas paixões de um homem de trinta anos, ele estrangularia seu pai e se deitaria com sua mãe. (de Le neveau de Rameau. citado por Freud na Lição XXI de suas Lições Introdutórias (1916- 1917), S.E., 16, pp. 331-338).
Psicologia do Ateísmo: A Teoria do Pai Defectivo
Estou bem ciente do fato de que há boas razões para darmos apenas uma limitada aceitação à teoria freudiana do Édipo. De qualquer forma, é minha visão de que apesar de o complexo de Édipo ser válido para alguns, a teoria está longe de ser uma representação universal da motivação inconsciente. Visto que há necessidade de um mais profundo entendimento do ateísmo e visto que eu não conheço nenhum fundamento teórico – exceto o de Édipo – sou forçado a rascunhar um modelo próprio, ou realmente desenvolver uma não-desenvolvida tese de Freud. Em seu ensaio sobre Leonardo da Vinci, Freud fez a seguinte observação:
A psicanálise, que nos ensinou a intima conexão entre o complexo do pai e a crença em Deus, tem nos mostrado que o Deus pessoal é logicamente nada mais do que um pai exaltado e diariamente demonstra como jovens pessoas abandonam sua crença religiosa assim que a autoridade do pai não se faz mais presente. (Leonardo da Vinci, 1910, 1947 p. 98).
Essa declaração não faz nenhuma afirmação sobre desejos sexuais inconscientes pela mãe, ou até algum ódio universal pelo pai. Ao invés disso, ele diz simplesmente que uma vez que a criança se desaponte ou perca seu respeito pelo pai terreno, então a crença em Deus se torna impossível. Existem, é claro, muitas formas de um pai perder sua autoridade e desapontar uma criança seriamente. Algumas dessas formas – para as quais evidências clínicas são dadas abaixo – são:
1. Ele pode estar presente, mas ser fraco, covarde, ou indigno de respeito – mesmo que de alguma outra forma for simpático ou “legal”.
2. Ele pode estar presente, mas ser abusivo tanto física, sexual ou psicologicamente.
3. Ele pode estar ausente por motivo de morte ou por abandonar a família.
Unidas essas determinantes do ateísmo serão chamadas de hipótese do “pai defectivo”. Para apoiar a validade dessa abordagem, eu vou concluir provendo material histórico da vida de ateus proeminentes, pois foi a partir da leitura das biografias de ateus que essa hipótese veio a minha mente pela primeira vez.
Vamos começar pela relação de Sigmund Freud com seu pai. Que o pai de Freud, Jacob, foi um grande desapontamento – ou até pior – é geralmente aceito em suas biografias. (Para acesso ao material biográfico de apoio sobre Freud veja, por exemplo, Krull, 1979, e Vitz, 1983, 1986). Especificamente, seu pai foi um homem fraco incapaz de sustentar financeiramente sua família. O suporte financeiro parece ter sido provido pela família de sua esposa e outras pessoas. Além do mais, o pai de Freud era passivo em resposta ao antissemitismo. Freud relembra um episódio que o seu pai o contou, no qual Jacob permitiu que um antissemita o chamasse de “Judeu sujo” e derrubasse seu chapéu. O jovem Sigmund, ao ouvir a história, ficou profundamente abalado pelo fracasso do pai e pela sua fraqueza. Sigmund Freud foi um homem complexo e em muitos aspectos ambíguo, mas todos concordam que ele foi um lutador corajoso e que ele admirava profundamente a coragem nos outros. Sigmund, quando jovem, muitas vezes lutou fisicamente contra o antissemitismo e, é claro, ele foi um dos maiores lutadores intelectuais.
As ações de Jacob como um pai defectivo, entretanto, provavelmente vão ainda mais fundo. Especificamente, em duas de suas cartas de quando já adulto Freud escreve que seu pai era um pervertido sexual e que os próprios filhos de Jacob sofriam com isso. Existem outros possíveis desastres morais que eu não me preocupei em citar.
A conexão de Jacob com Deus e a religião também estavam presentes para seu filho. Jacob estava envolvido num tipo de reforma Judaica quando Freud era criança, e os dois gastavam horas lendo a Bíblia juntos, e mais tarde Jacob se tornou cada vez mais envolvido em ler o Talmude e debater sobre as escrituras judaicas. Resumidamente, esse “cara legal” fraco e passivo, esse schlemiel, estava claramente ligado ao Judaísmo e à Deus, e também a uma séria falta de coragem e possivelmente à perversão sexual e outros fracassos que abalaram o jovem Sigmund.
Sucintamente, outros famosos ateus parecem ter tido um tipo de relacionamento com seus pais, similar ao de Freud. Karl Marx deixou claro que não respeitava seu pai. Uma parte importante nisso foi que seu pai se converteu ao Cristianismo – não a partir de qualquer convicção religiosa – mas a partir de um desejo de tornar a vida mais fácil. Ele se converteu por conveniência. Nisso o pai de Marx quebrou uma antiga tradição familiar. Ele foi o primeiro na família que não se tornou um rabino; de fato, Karl Marx veio de uma longa tradição rabínica em ambos os lados de sua família.
O pai de Ludwig Feuerbach fez algo que poderia facilmente ter ferido profundamente seu filho. Quando Feuerbach tinha 13 anos, seu pai deixou sua família e abertamente foi viver com outra mulher numa outra cidade. Isso aconteceu na Alemanha no inicio do século 19 e uma rejeição pública dessa proporção seria um grande escândalo e deixaria um grande sentimento de rejeição no jovem Ludwig – e, é claro, para sua mãe e os outros filhos.
Vamos avançar cem anos e examinar a vida de uma das ateístas mais famosas da América – Madalyn Murray O’Hair. Aqui eu cito o livro mais recente de seu filho sobre como era a sua família quando ele era criança (Murray, 1982). O livro começa quando ele tinha oito anos de idade: “Nós raramente fazíamos algo juntos como família. O ódio entre meu avô e minha mãe impedia situações como essas”. (p. 7) Ele diz que não sabia realmente o porquê do ódio de sua mãe pelo pai – mas ela o odiava, pois o capitulo de abertura conta uma briga feia na qual ela tenta matar seu pai com uma faca. Madalyn falhou mais esbravejou: “Eu vou vê-lo morto. Eu ainda te pego. Eu vou pisar na sua cova!”
Qualquer que fosse a causa do intenso ódio de O’Hair pelo seu pai é claro, no livro, que foi profundo e que remonta a sua infância – ao menos psicológico (e.g.p. 11) e possivelmente abuso físico é uma causa plausível.
Além do abuso, rejeição, ou covardia, uma forma do pai ser seriamente defectivo é simplesmente não estar presente. Muitas crianças, é claro, interpretam a morte de seu pai como um tipo de traição ou ato de deserção. Nesse aspecto é notável que o padrão de um pai morto é tão comum na vida de muitos ateus proeminentes.
Barão d’Holbach (nascido como Paul Henri Thiry), o racionalista francês e provavelmente o primeiro ateu confesso publicamente, ficou órfão aos 13 anos e viveu com seu tio. (De quem ele tomou o nome Holbach). O pai de Bertrand Russel morreu quando ele tinha quatro anos; Nietzsche tinha a mesma idade de Russell quando perdeu seu pai; o pai de Sartre morreu antes de Sartre nascer e Camus tinha um ano quando perdeu seu pai. (As informações bibliográficas foram tiradas de fontes de referência padrão). Obviamente, muito mais evidências podem ser obtidas para a hipótese do “pai defectivo”. Mas as informações já citadas são substanciais; improváveis de serem uma mera coincidência.
A psicologia de como um pai falecido ou não-existente poderia fornecer base emocional para o ateísmo pode não ser clara a primeira vista. Mas se o pai de alguém é ausente ou fraco a ponto de morrer, ou tão indigno a ponto de desertar, então não é difícil colocar os mesmos atributos no Pai celeste.
E por ultimo, há também a experiência precoce de sofrimento, morte, de mal, algumas vezes aliadas à raiva contra Deus por permitir que tais coisas acontecessem. Raiva precoce contra Deus pela perda do pai e o sofrimento subseqüente é ainda outra e diferente psicologia da descrença, mas estreitamente ligada com a teoria do pai defectivo.
Parte dessa psicologia é clara na recente autobiografia de Russell Baker. (Baker, 1982) Russel Baker é um famoso jornalista e escritor comediante do New York Times. Seu pai foi levado para o hospital e morreu subitamente quando Russel tinha cinco anos. Baker chorou e sofreu e falou para a governanta de sua casa, Bessie:
… Pela primeira vez eu pensei seriamente sobre Deus. Entre soluços eu disse a Bessie que se Deus podia fazer coisas como essas às pessoas, então Deus era detestável e eu não precisava dEle.
Bessie me falou sobre a paz no céu e a alegria de estar entre os anjos e a felicidade de saber que meu pai já estava lá. O argumento falhou em aliviar minha ira.
“Deus ama a nós todos como Seus próprios filhos”, Bessie disse.
“Se Deus me ama, por que Ele fez meu pai morrer?”
Bessie disse que eu entenderia algum dia, mas ela estava apenas parcialmente certa. Aquela tarde, apesar de eu não ter conscientemente formulado dessa forma, eu decidi que Deus estava muito menos interessado nas pessoas do que qualquer um em Morrisonville admitiria. Naquele eu decidi que Deus não era confiável.
Após isso eu nunca mais chorei com convicção real, nem esperei muito do Deus de qualquer um além de indiferença, nem amei profundamente sem medo de que isso me custasse uma profunda dor. Aos cinco anos eu me tornei cético…(Growing Up, p. 61).
Concluo lembrando que por mais que existam motivos superficiais que prevaleçam no ateísmo do individuo, os fatores psicológicos profundos e perturbadores ainda estão presentes em muitas instâncias também. Por mais fácil que seja afirmar a hipótese do “pai defectivo”, não podemos esquecer a dificuldade, a dor e a complexidade que estão por trás de cada caso individual. E para aquele cujo ateísmo foi condicionado por um pai que o rejeitou, negligenciou, odiou, manipulou ou o abusou física ou sexualmente tem que haver compreensão e compaixão. Certamente uma criança odiar o próprio pai é algo trágico. Apesar de tudo, a criança deseja amar seu pai. Para qualquer descrente cujo ateísmo repousa em tal experiência, o crente, abençoado pelo amor de Deus, deve orar mais especificamente para que no final ambos se encontrem no paraíso. Encontrem e experimentem grande alegria. Se for assim, talvez o ex-ateu experimentará ainda mais alegria do que o crente. Pois, além da felicidade do crente, o ateu ainda terá o incremento de se surpreender rodeado de alegria e, entre todos os lugares, na casa de seu Pai.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Adler, M. (1976). Philosopher at large. New York: Macmillan.
Adler, M. (1980). How to think about God: A guide to the twentieth century pagan. New York: Macmillan.
Baker, R. (1982). Growing up. New York: Congdon & Weed.
Feuerbach, L. (1891/1957). The essence of Christianity. Ed. and abridged by E. G. Waring & F. W. Strothman. New York: Ungar.
Freud, S. (1910/1947). Leonardo da Vinci, New York: Random.
Freud, S. (1927/1961). The future of an illusion. New York: Norton.
Freud S. (1923/1962). The ego and the id. New York: Norton.
Freud S. & Pfister, 0. (1963). Psychoanalysis and faith: The letters of Sigmund Freud and Oskar Pfister. New York: Basic.
Gedo, J. E. & Pollock, G. H. (Eds.). (1967). Freud: The fusion of science and humanism. New York: International University.
Graddy, W.E. (1982, June). The uncrossed bridge. New Oxford Review, 23-24.
Krull, M. (1979). Freud und sein Vater. Munich: Beck. Murray, W.J. (1982). My life without God. Nashville, TN: Nelson.
Vitz, P.C. (1983). Sigmund Freud’s attraction to Christianity: Biographical evidence. Psychoanalysis and Contemporary Thought, 6, 73-183.
Vitz, P.C. (1986). Sigmund Freud’s Christian unconscious. New York: Guilford, in press.
Vitz, P.C. & Gartner, J. (1984a). Christianity and psychoanalysis, part 1: Jesus as the anti-Oedipus. Journal of Psychology and Theology, 12, 4-14.
Vitz, P.C., & Gartner, J. (1984b). Christianity and psychoanalysis, part 2: Jesus the transformer of the super-ego. Journal of Psychology and Theology, 12, 82-89.
NOTAS DE RODAPÉ
¹Address: New York University, Department of Psychology, 6 Washington Place, New York 10003.
²Eu sei que há uma continuação para a história de Adler. Recentemente ouvi falar que há aproximadamente 2 anos atrás Adler se tornou Cristão-Anglicano.
Texto original: The Psychology of Atheism
Tradução: Vitor Grando
O título desse ensaio, “Psicologia do Ateísmo”¹, pode parecer estranho. Certamente, meus colegas na psicologia acharam incomum e até, devo acrescentar, um pouco perturbador. A psicologia, desde sua fundação há um século atrás, freqüentemente se preocupou com o tópico oposto – a psicologia da crença religiosa. De fato, em muitos aspectos a origem da psicologia moderna está intrinsecamente ligada com os psicólogos que explicitamente propuseram interpretações da crença em Deus.
William James e Sigmund Freud, por exemplo, estavam pessoal e profissionalmente envolvidos profundamente na questão. Lembre-se de A Vontade de Crer de James, como também do seu famoso As Variedades das Experiências Religiosas. Essas duas obras são tentativas de entender a crença como resultado de causas psicológicas, ou seja, causas naturais. James pode até ter sido compassivo com a religião, mas sua posição pessoal era de dúvida e ceticismo e seus escritos eram parte de uma tentativa psicológica de menosprezar a fé religiosa. As criticas de Sigmund Freud à religião, especialmente o cristianismo, são bem conhecidas e serão discutidas com mais detalhes mais a frente. Por hora, é suficiente lembrar quão profundamente envolvidos com a questão de Deus e a religião, Freud e seus pensamentos estavam.
Tendo em vista o estreito envolvimento entre os fundadores da psicologia e a interpretação critica da religião, não é de se surpreender que muitos dos psicólogos vejam com certa desconfiança qualquer tentativa de propor uma psicologia do ateísmo. No mínimo, um projeto como esse coloca os psicólogos na defensiva e os oferece um pouco do seu próprio veneno. Os psicólogos estão sempre observando e interpretando os outros e já é hora de alguns deles aprenderem a partir de suas próprias experiências como é estar sob a mira da teoria e experimentação psicológicas. Eu espero demonstrar que muitos dos conceitos psicológicos utilizados para interpretar a religião são espadas de dois gumes, que podem também ser usados para interpretar o ateísmo. O que vale para o crente, igualmente vale para o descrente.
Antes de começar, entretanto, eu quero fazer dois pontos que estão por trás das minhas pressuposições. Primeiro, eu creio que as maiores barreiras para a crença em Deus não são racionais, mas – num sentido geral – podem ser chamadas de psicológicas. Não quero ofender nenhum filósofo distinto – tanto crentes quanto descrentes – nesse auditório, mas eu estou plenamente convencido que para cada pessoa fortemente convencida por argumentos racionais existem muitas, muitas mais afetadas por fatores psicológicos não-racionais.
Ninguém pode decifrar o coração humano e seus caminhos, mas ao menos é tarefa da psicologia tentar. Dessa forma, para começar, eu proponho que barreiras neurótico-psicológicas para a crença em Deus são de grande importância. Quais são elas mencionarei brevemente. Para os crentes é importante ter em mente que motivações e pressões psicológicas que muitos podem nem sequer se dar conta, muitas vezes estão por trás da descrença.
Um dos mais antigos teóricos do inconsciente, São Paulo, escreveu, “com efeito o querer bem está em mim, mas o efetuá-lo não está…mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros” Romanos 7.18,23. Assim, me parece que tanto pela teologia quanto pela psicologia fatores psicológicos podem ser impedimentos à crença como também ao comportamento, e que esses fatores freqüentemente são inconscientes. Além disso, é razoável dizer que as pessoas variam extensamente na intensidade da presença desses fatores em suas vidas. Alguns de nós fomos abençoados com uma boa criação, um bom temperamento, envolvimento social, e outros dons que fizeram da crença em Deus algo muito mais fácil do que para muitos que sofreram mais ou cresceram num ambiente pobre espiritualmente ou tiveram outras dificuldades com as quais lidar. As Escrituras deixam claro que muitas crianças – até a terceira ou quarta geração – sofrem dos pecados dos pais, incluindo os pecados dos pais que foram crentes. Resumidamente, meu primeiro ponto é que algumas pessoas têm barreiras psicológicas para a crença muito mais sérias do que outras, um ponto consistente com a afirmação clara das Escrituras de que nós não devemos julgar os outros, entretanto somos instados a corrigir o mal.
Meu segundo ponto é que apesar de sérias dificuldades para a crença, todos nós ainda temos a livre escolha de aceitar Deus ou rejeitá-lo. Esse ponto não está em contradição com o primeiro. Talvez um pouco mais de elaboração vai esclarecer esse ponto. Uma pessoa, como conseqüência do seu passado, envolvimento presente, etc., pode achar muito mais difícil acreditar em Deus do que a maioria das pessoas. Mas presumivelmente, a qualquer momento, certamente em muitos momentos, ela pode escolher se mover em direção a Deus ou pra longe dele. Um homem pode começar com tantas barreiras que mesmo depois de anos caminhando vagarosamente em direção a Deus ele ainda não esteja lá. Alguns podem morrer antes de alcançar a crença. Nós acreditamos que eles serão julgados – como todos nós – quão longe eles viajaram em direção a Deus e quão bem amaram os outros – o que eles fizeram com o que lhes foi dado. Da mesma forma, um outro homem sem dificuldades psicológicas ainda é livre para rejeitar Deus, e sem dúvidas muitos o fazem. Assim, apesar de que no fundo a questão é da vontade do homem e de nossa natureza pecaminosa, ainda é possível investigar os fatores psicológicos que predispõe alguém para a descrença, que faz a estrada em direção a Deus dura e difícil.
Psicologia do Ateísmo: Motivações Psicológicas e Sociais
Parece haver uma crença bem difundida na comunidade intelectual ocidental de que a crença em Deus é baseada em todos os tipos de desejos e necessidades imaturas, mas o ateísmo e o ceticismo são derivados de uma observação racional das coisas como elas são realmente. Para começar uma critica dessa idéia, eu começo com a minha própria história.
Como alguns de vocês sabem, depois de uma frágil criação cristã, eu me tornei ateu na faculdade nos anos 1950 e permaneci assim durante minha graduação e meus primeiros anos como um jovem psicólogo experimental na New York University. Isto é, eu sou um convertido adulto ou, mais tecnicamente, um reconvertido ao Cristianismo que voltou para a fé, para sua própria surpresa, no final dos meus 30 anos no meio do desenvolvimento secular da psicologia acadêmica em Nova Iorque.
Não estou entrando nisso para entediá-los com partes da história da minha vida, mas para mostrar que através da reflexão sobre minha própria experiência, é claro para mim que as minhas razões para se tornar e permanecer ateu-cético dos 18 aos 38 anos foram superficiais, irracionais e sem integridade moral e intelectual. Além do mais, eu estou convencido de que minhas motivações foram, e ainda são, um lugar comum entre os intelectuais especialmente cientistas sociais.
Os principais fatores envolvidos na minha escolha pelo ateísmo – apesar de eu não estar ciente na época – foram as seguintes:
Socialização geral. Uma influência importante na minha juventude foi uma significante inquietação social. Eu estava de certa forma envergonhado de ser do centro-oeste, pois parecia terrivelmente obtuso, limitado e interiorano. Não havia nada de romântico ou impressionante em ser de Cincinnati, Ohio e de uma origem Germano-Anglo-Suiça. Terrivelmente classe-média. Além de escapar do obtuso, e segundo eu mesmo sem-valor, passado social vergonhoso, eu queria fazer parte, de fato estar confortável no novo, excitante e glamouroso mundo secular para o quão eu estava me dirigindo. Eu estou certo de que motivações similares fortemente influenciaram as vidas de um sem-número de jovens emergentes nos últimos dois séculos. Veja Voltaire, que se mudou para o aristocrático e sofisticado mundo de Paris, e que sempre se sentiu envergonhado de sua origem interiorana e não-aristocrática; ou dos guetos Judeus para os quais muitos judeus fugiram, ou da chegada dos jovens a Nova Iorque, envergonhados de seus pais fundamentalistas. Esse tipo de pressão social afastou muitos da crença em Deus e tudo com o que a crença nele está relacionada.
Eu me lembro de um pequeno seminário na minha graduação no qual quase todos os membros expressavam algum tipo de vergonha devido às pressões da socialização na “vida moderna”. Um estudante tentava fugir de seu passado Batista, um outro de uma comunidade Mórmon, um terceiro fugia de seu gueto judeu, e o quarto era eu.
Socialização especifica. Uma outra grande razão para eu querer me tornar ateu foi que eu desejava ser aceito pelos poderosos e influentes cientistas do campo da psicologia. Em particular, eu queria ser aceito pelos meus professores. Como um estudante eu estava profundamente socializado com a cultura de pesquisa da psicologia acadêmica. Meus professores em Stanford, apesar de discordarem muito entre si no que se refere às teorias psicológicas, estavam unidos em apenas duas coisas – uma intensa ambição profissional e a rejeição da religião. Como diz o salmista, “Pois o ímpio gloria-se do desejo do seu coração, e o que é dado à rapina despreza e maldiz o Senhor. Por causa do seu orgulho, o ímpio não o busca; todos os seus pensamentos são: Não há Deus”.(Salmo 10.3-4).
No desenvolver disso tudo, assim como eu aprendi a me vestir como um estudante universitário colocando as roupas adequadas, eu também aprendi a “pensar” como um psicólogo adotando as idéias e atitudes corretas – isto é, idéias e atitudes ateístas.
Conveniência pessoal. Finalmente, nessa lista de superficiais, mas não menos fortes pressões irracionais para se tornar ateu, eu devo listar simplesmente a conveniência pessoal. A verdade é que é bastante inconveniente ser um crente devoto na cultura poderosa e neo-pagã da atualidade. Eu teria que abrir mão de muitos prazeres e de tempo útil. Sem entrar em detalhes não é difícil de imaginar os prazeres sexuais que teriam que ser rejeitados se eu me tornasse um crente devoto. E também eu sabia que me custaria tempo e algum dinheiro. Haveria cultos, grupos de comunhão, tempo de oração e leitura das Escrituras, tempo gasto ajudando os outros. Eu já estava por demais ocupado. Obviamente, se tornar religioso seria uma verdadeira inconveniência.
Agora talvez você pense que razões como essas estão restritas a jovens imaturos – como eu nos meus vinte e poucos anos. Entretanto, essas razões não são tão restritas. Tomo como exemplo o caso de Mortimer Adler, um conhecido filósofo Americano, escritor, e intelectual que gastou boa parte de sua vida pensando sobre Deus e a temática religiosa. Um de seus livros mais recentes é intitulado How to Think About God: A Guide for the 20th Century Pagan (1980) (Como pensar sobre Deus: Um guia para o pagão do século XX). Nessa obra, Adler examina minuciosamente os argumentos para a existência de Deus e nos capítulos finais ele está próximo a aceitar o Deus vivo. Ainda assim ele recua e continua entre “a vasta companhia dos religiosos não-comprometidos) (Graddy, 1982). Mas Adler deixa a impressão de que essa decisão é mais da vontade do que do intelecto. Como um de seus resenhistas notou (Graddy, 1982), Adler confirma essa impressão em sua autobiografia, Philosopher at Large (1976). Nessa obra, enquanto investiga as razões para já duas vezes parar quando esteve próximo de um comprometimento religioso, ele escreve que a resposta “está na vontade, e não na mente”. Adler vai além e comenta que se tornar seriamente religioso “requereria uma mudança radical no meu estilo de vida…” e “A verdade simples da questão é que eu não desejava viver como uma pessoa genuinamente religiosa.” (Graddy, p.24).²
Ai está! Uma memorável admissão honesta e consciente de que ser “uma pessoa genuinamente religiosa” seria muito problemático e muito inconveniente. Tais são as razões por detrás de muito do ceticismo dos descrentes.
Resumidamente, por causa das minhas necessidades sociais, por causa das minhas necessidades profissionais de ser aceito como parte da psicologia acadêmica, e por causa das minhas necessidades por um estilo de vida conveniente – por todas essas necessidades o ateísmo era simplesmente a melhor escolha. Refletindo sobre essas motivações, eu posso afirmar honestamente que um retorno ao ateísmo é o mesmo do que um retorno à adolescência.
A Psicologia do Ateísmo: Motivações psicanalíticas.
Como sabemos, o centro da critica Freudiana à crença em Deus é que tal crença não é confiável por causa de sua origem psicológica. Isto é, Deus é uma projeção de nossos próprios e intensos desejos inconscientes; Ele é a satisfação de um desejo derivado das necessidades infantis de proteção e segurança. Visto que esses desejos são inconscientes, não deve ser dado muito crédito a qualquer negação de tal interpretação. Devemos notar que ao desenvolver esse tipo de crítica, Freud formulou um argumento ad hominem de grande influência. É na obra O Futuro de Uma Ilusão (1927, 1961) que Freud explica sua posição:
Idéias religiosas surgiram das mesmas necessidades de que surgiram todos as conquistas da civilização: da necessidade de defender-se da impetuosa e superior força da natureza. (p.21)
Logo, crenças religiosas são:
Ilusões, satisfação dos mais antigos, mais fortes, e urgentes desejos da raça humana… Como já sabemos, a pavorosa impressão de abandono na infância fez surgir o desejo de proteção – de proteção pelo amor – que foi provida pelo pai… Dessa forma a benevolente regra de Providência Divina apazigua nosso medo dos perigos da vida. (p.30)
Vamos examinar esse argumento cuidadosamente, pois apesar da aceitação entusiástica do argumento pelos ateus e céticos não-críticos, é um argumento muito frágil.
No primeiro parágrafo Freud falha em notar que seu argumento contra as crenças religiosas é, em suas próprias palavras, igualmente válido contra todas as conquistas da civilização, incluindo a própria psicanálise. Isto é, a origem psíquica de uma conquista intelectual invalida sua veracidade, então a física, a biologia, e a própria psicanálise, são vulneráveis a mesma acusação.
No segundo parágrafo Freud faz outra alegação estranha, de que os mais antigos e urgentes desejos da humanidade são de proteção e orientação amorosa por um poderoso Pai de amor, pela divina Providência. Entretanto, se esses desejos fossem tão fortes e antigos como ele alega, era de se esperar que as religiões pré-cristãs enfatizassem Deus como um pai benevolente. Em geral, isso é bem distante do caso das religiões pagãs do mundo Mediterrâneo – e, por exemplo, ainda não é o caso em muitas religiões populares como o Budismo ou o Hinduísmo. De fato, o Judaísmo e mais especificamente o Cristianismo são em muitos aspectos distintos em sua ênfase em Deus como um Pai de amor.
Entretanto, deixemos de lado essas duas gafes intelectuais e voltemos para um outro entendimento da teoria da projeção de Freud. Pode ser demonstrado que essa teoria não é realmente parte integrante da psicanálise – e, dessa forma não tem a teoria psicanalítica como fundamento de apoio. É essencialmente um argumento autônomo. De fato, a atitude crítica de Freud em relação à religião é enraizada em suas predileções pessoais e é um tipo de meta-psicanálise – ou se origina em fundamentos sem relação com seus conceitos clínicos. (Essa separação ou autonomia em relação a muito da teoria psicanalítica muito provavelmente é responsável pela influência do argumento fora do âmbito da psicanálise). Existem duas evidências para essa interpretação da teoria da projeção.
A primeira é que essa teoria foi articulada claramente muitos anos antes por Ludwig Feuerbach em seu livro A Essência do Cristianismo (1841, 1957). A interpretação de Feuerbach foi popular no meio dos intelectuais europeus, e Freud, quando jovem, lia Feuerbach avidamente (veja Gedo & Pollock, 1976, pp.47,350) Seguem algumas significativas citações de Feuerbach que esclarecem isso:
O que o homem sente necessidade – seja essa uma necessidade articulada, portanto consciente, ou uma necessidade inconsciente – é Deus. (1841, 1957, p. 33)
O homem projeta sua natureza no mundo exterior a si mesmo antes de encontrá-lo dentro de si. (p.11)
Viver por meio de sonhos projetados é a essência da religião. A religião sacrifica a realidade em prol do sonho projetado. (p. 49)
Muitas outras citações de Feuerbach poderiam ser usadas para descrever a religião em termos “Freudianos” como satisfação-de-desejo (wish-fulfillment), etc. O que Freud fez com esse argumento foi reconstruí-lo em uma forma mais eloqüente, e publicá-lo num período posterior onde a audiência ansiosa por ouvir uma teoria como essa era muito maior. E, é claro, de alguma forma as descobertas e a própria teoria psicanalítica foram utilizadas como se apoiassem fortemente a teoria. O caráter Feuerbachiano da posição de Freud que taxa a religião de ilusão é demonstrado também em noções como “a esmagadora força superior da natureza” e a “apavorante impressão de desamparo na infância”, que não são psicanalíticas em terminologia ou sentido.
A outra evidência que comprova que as bases da teoria da projeção não são psicanalíticas, vem diretamente do próprio Freud, que explicitamente afirma isso. Numa carta escrita em 1927 para seu amigo Oskar Pfister (um antigo psicanalista e pastor protestante), Freud escreveu:
Vamos ser bem claros quanto à questão de que as opiniões difundidas em meu livro (O Futuro de uma Ilusão) não são parte da teoria analítica. São minhas visões pessoais. (Freud/Pfister, 1963, p; 117)
Há outra interpretação um pouco diferente da crença em Deus que Freud desenvolveu também, mas apesar de essa teoria ter um certo embasamento psicanalítico, é na verdade, ainda, uma adaptação da teoria Feuerbachiana da projeção. É a interpretação negligenciada de Freud quando ao ego ideal. O super-ego, incluindo o ego ideal é o “herdeiro do complexo de Édipo”, representando a projeção de um pai idealizado e presumivelmente do Deus-Pai (veja Freud, 1923, 1962, pp. 26-28; p.38)
A dificuldade aqui é que o ego ideal não recebeu muita atenção ou desenvolvimento nos escritos de Freud. Além do mais, é facilmente interpretado como uma adoção da teoria da projeção de Feuerbach. Assim, podemos concluir que a psicanálise na verdade não provê conceitos teóricos significativos para caracterizar a crença em Deus como neurótica. Freud tanto usou a antiga teoria de projeção ou ilusão de Feuerbach como incorporou Feuerbach em sua noção de ego ideal. Presumivelmente, essa é a razão por que Freud reconheceu a Pfister que seu livro O Futuro de uma Ilusão, não é parte integrante da psicanálise
Ateísmo como Satisfação-de-Desejo Edipiano
Apesar de tudo, Freud de certa forma está certo ao se preocupar que a crença em Deus possa ser uma ilusão por se derivar de desejos poderosos – tanto necessidades inconscientes quanto infantis. A ironia é que ele claramente proveu uma poderosa e nova forma de entender as bases neuróticas do ateísmo. (Para um desenvolvimento detalhado dessa posição veja Vitz e Gartner, 1984a, b; Vitz, 1986, in press.)
O Complexo de Édipo
O conceito central na obra de Freud, além do inconsciente, é o bem conhecido complexo de Édipo. No caso do desenvolvimento da personalidade masculina, os aspectos essenciais desse complexo são os seguintes: Por volta do período que vai dos três aos seis anos o filho desenvolve um forte desejo sexual pela mãe. Ao mesmo tempo o filho desenvolve um intenso ódio e medo do pai, e um desejo de substituí-lo, uma “ânsia por poder”. Esse ódio é baseado no conhecimento que o garoto tem de que o pai, com sua força e tamanho, obstrui o caminho do seu desejo. O medo da criança do pai pode explicitamente ser um medo de castração pelo pai, mas mais tipicamente, tem um caráter menos especifico. O filho não quer realmente matar o pai, é claro, mas é presumido que o patricídio é uma preocupação comum em suas fantasias e sonhos. A “solução” do complexo deve ocorrer através do reconhecimento de que ele não pode substituir o pai, e através do medo da castração, que eventualmente leva o garoto a se identificar com o pai, se identificar com o agressor, e recalcar os pavorosos componentes originais do complexo.
É importante ter em mente que, de acordo com Freud, o complexo de Édipo nunca é totalmente solucionado, e é passível de retorno em períodos posteriores – quase sempre, por exemplo, na puberdade. Assim os poderosos ingredientes do ódio homicida e do desejo sexual incestuoso no contexto familiar nunca são removidos de fato. Ao invés disso, eles são cobertos e recalcados. Freud explica o potencial neurótico dessa situação:
O complexo de Édipo é o núcleo da neurose… O que permanece do complexo no inconsciente representa a disposição ao desenvolvimento de neuroses no adulto. (Freud, 1919, Standard Edition, 17, 0. 193; also 1905, S.E. 7, p. 226ff; 1909, S.E., 11, p. 47)
Resumidamente, todas as neuroses humanas se derivam desse complexo. Obviamente, na maioria dos casos, esse potencial não é expresso em nenhuma maneira neurótica séria. Ao invés disso, o complexo é expresso na relação com autoridades, sonhos, atos falhos, irracionalidades transitórias, etc.
Agora, ao postular um complexo de Édipo universal como a origem de todas as neuroses, Freud inadvertidamente desenvolveu um entendimento racional da origem da rejeição de Deus na Satisfação-de-Desejo.
Além de tudo, o complexo de Édipo é inconsciente, é estabelecido na infância e, acima de tudo, sua motivação dominante é o ódio pelo pai e o desejo de sua não-existência, especificamente representada pelo desejo de substituí-lo ou matá-lo. Freud freqüentemente descrevia Deus como psicologicamente equivalente ao pai, então uma expressão natural da motivação Edipiana seriam desejos poderosos e inconscientes da não-existência de Deus. Logo, sob o ponto de vista Freudiano, o ateísmo é uma ilusão causada pelo desejo Edipiano de matar o pai e substituí-lo por si mesmo. Agir como se Deus não existisse é obviamente, uma máscara sutil do desejo de matá-lo, do mesmo modo num sonho, a imagem de um parente indo embora ou desaparecendo pode representar um desejo como esse: “Deus está morto” é simplesmente uma Satisfação-de-Desejo Edipiana desmascarada.
Certamente não é difícil de entender o caráter edipiano no ateísmo e ceticismo contemporâneos. Hugh Hefner, até James Bond, com sua rejeição a Deus mais suas inúmeras mulheres, estão obviamente vivendo o Édipo de Freud e a rebelião primitiva (e.g. Totem e Tabu). Assim também estão inúmeros outros céticos que vivem variações do mesmo cenário de permissividade sexual exploradora combinada com auto-adoração narcísica.
E, é claro, o sonho de Édipo não é apenas matar o pai e possuir a mãe ou outras mulheres no grupo, mas também retirá-lo de seu lugar. O Ateísmo moderno tem tentado alcançar isso. Agora o homem, não Deus, é conscientemente a fonte Última de bondade e força do universo. Filosofias humanistas glorificam o homem e seu “potencial” quase da mesma forma que a religião glorifica o Criador. Saímos de um Deus para vários deuses e agora cada um como deus. Essencialmente, o homem – através de seu narcisismo e desejos Edipianos – tem tentado fazer o que Satanás não conseguiu, se assentar no trono de Deus. Graças a Freud agora é mais fácil entender a profundidade neurótica e não confiável da descrença.
Um exemplo interessante da motivação Edipiana proposta aqui é Voltaire, um expoente do ceticismo que negou a noção judaico-cristã de um Deus pessoal – de Deus como Pai. Voltaire foi um teísta ou deísta que acreditava num Deus cósmico, impessoal de caráter desconhecido.
O questão psicológica importante sobre Voltaire é que ele insistentemente rejeitou seu pai – tanto que ele rejeitou o nome de seu pai e usou o nome “Voltaire”. Não é certo de onde o nome veio, mas uma interpretação aceita pela maioria é que o nome foi construído a partir das letras do sobrenome de sua mãe. Quando Voltaire estava nos seus vinte anos (em 1718), ele publicou uma peça intitulada “Édipo”, a primeira de suas peças a ser apresentada ao público. A peça reconta a clássica lenda com fortes alusões a rebelião religiosa e política. Por toda sua vida, Voltaire (assim como Freud) brincou com a idéia de que ele não era filho de seu pai. Ele aparentemente ansiava por ser de uma família aristocrática e mais importante do que sua família de classe média. (Uma expressão dessa preocupação de ter um pai mais digno é a peça Cândido). Resumidamente, a hostilidade de Voltaire ao seu próprio pai, sua rejeição religiosa ao Deus-Pai, e sua rejeição política do rei – também uma figura do pai – são todas reflexões dos mesmos desejos básicos. Psicologicamente falando, a rebelião de Voltaire contra seu pai e contra Deus são facilmente interpretadas como Satisfação-de-Desejo Edipiana, como ilusões confortadoras, e logo, seguindo Freud, como crenças e atitudes indignas da mente madura.
Diderot, o grande Enciclopedista e um renomado ateu – de fato ele é um dos fundadores do ateísmo moderno – também tinha insights e preocupações Edipianas. Freud em tom de aprovação cita a observação de Diderot:
Se o pequeno bárbaro fosse deixado por si mesmo, preservando toda sua tolice e adicionando ao pequeno sentido de criança no berço as violentas paixões de um homem de trinta anos, ele estrangularia seu pai e se deitaria com sua mãe. (de Le neveau de Rameau. citado por Freud na Lição XXI de suas Lições Introdutórias (1916- 1917), S.E., 16, pp. 331-338).
Psicologia do Ateísmo: A Teoria do Pai Defectivo
Estou bem ciente do fato de que há boas razões para darmos apenas uma limitada aceitação à teoria freudiana do Édipo. De qualquer forma, é minha visão de que apesar de o complexo de Édipo ser válido para alguns, a teoria está longe de ser uma representação universal da motivação inconsciente. Visto que há necessidade de um mais profundo entendimento do ateísmo e visto que eu não conheço nenhum fundamento teórico – exceto o de Édipo – sou forçado a rascunhar um modelo próprio, ou realmente desenvolver uma não-desenvolvida tese de Freud. Em seu ensaio sobre Leonardo da Vinci, Freud fez a seguinte observação:
A psicanálise, que nos ensinou a intima conexão entre o complexo do pai e a crença em Deus, tem nos mostrado que o Deus pessoal é logicamente nada mais do que um pai exaltado e diariamente demonstra como jovens pessoas abandonam sua crença religiosa assim que a autoridade do pai não se faz mais presente. (Leonardo da Vinci, 1910, 1947 p. 98).
Essa declaração não faz nenhuma afirmação sobre desejos sexuais inconscientes pela mãe, ou até algum ódio universal pelo pai. Ao invés disso, ele diz simplesmente que uma vez que a criança se desaponte ou perca seu respeito pelo pai terreno, então a crença em Deus se torna impossível. Existem, é claro, muitas formas de um pai perder sua autoridade e desapontar uma criança seriamente. Algumas dessas formas – para as quais evidências clínicas são dadas abaixo – são:
1. Ele pode estar presente, mas ser fraco, covarde, ou indigno de respeito – mesmo que de alguma outra forma for simpático ou “legal”.
2. Ele pode estar presente, mas ser abusivo tanto física, sexual ou psicologicamente.
3. Ele pode estar ausente por motivo de morte ou por abandonar a família.
Unidas essas determinantes do ateísmo serão chamadas de hipótese do “pai defectivo”. Para apoiar a validade dessa abordagem, eu vou concluir provendo material histórico da vida de ateus proeminentes, pois foi a partir da leitura das biografias de ateus que essa hipótese veio a minha mente pela primeira vez.
Vamos começar pela relação de Sigmund Freud com seu pai. Que o pai de Freud, Jacob, foi um grande desapontamento – ou até pior – é geralmente aceito em suas biografias. (Para acesso ao material biográfico de apoio sobre Freud veja, por exemplo, Krull, 1979, e Vitz, 1983, 1986). Especificamente, seu pai foi um homem fraco incapaz de sustentar financeiramente sua família. O suporte financeiro parece ter sido provido pela família de sua esposa e outras pessoas. Além do mais, o pai de Freud era passivo em resposta ao antissemitismo. Freud relembra um episódio que o seu pai o contou, no qual Jacob permitiu que um antissemita o chamasse de “Judeu sujo” e derrubasse seu chapéu. O jovem Sigmund, ao ouvir a história, ficou profundamente abalado pelo fracasso do pai e pela sua fraqueza. Sigmund Freud foi um homem complexo e em muitos aspectos ambíguo, mas todos concordam que ele foi um lutador corajoso e que ele admirava profundamente a coragem nos outros. Sigmund, quando jovem, muitas vezes lutou fisicamente contra o antissemitismo e, é claro, ele foi um dos maiores lutadores intelectuais.
As ações de Jacob como um pai defectivo, entretanto, provavelmente vão ainda mais fundo. Especificamente, em duas de suas cartas de quando já adulto Freud escreve que seu pai era um pervertido sexual e que os próprios filhos de Jacob sofriam com isso. Existem outros possíveis desastres morais que eu não me preocupei em citar.
A conexão de Jacob com Deus e a religião também estavam presentes para seu filho. Jacob estava envolvido num tipo de reforma Judaica quando Freud era criança, e os dois gastavam horas lendo a Bíblia juntos, e mais tarde Jacob se tornou cada vez mais envolvido em ler o Talmude e debater sobre as escrituras judaicas. Resumidamente, esse “cara legal” fraco e passivo, esse schlemiel, estava claramente ligado ao Judaísmo e à Deus, e também a uma séria falta de coragem e possivelmente à perversão sexual e outros fracassos que abalaram o jovem Sigmund.
Sucintamente, outros famosos ateus parecem ter tido um tipo de relacionamento com seus pais, similar ao de Freud. Karl Marx deixou claro que não respeitava seu pai. Uma parte importante nisso foi que seu pai se converteu ao Cristianismo – não a partir de qualquer convicção religiosa – mas a partir de um desejo de tornar a vida mais fácil. Ele se converteu por conveniência. Nisso o pai de Marx quebrou uma antiga tradição familiar. Ele foi o primeiro na família que não se tornou um rabino; de fato, Karl Marx veio de uma longa tradição rabínica em ambos os lados de sua família.
O pai de Ludwig Feuerbach fez algo que poderia facilmente ter ferido profundamente seu filho. Quando Feuerbach tinha 13 anos, seu pai deixou sua família e abertamente foi viver com outra mulher numa outra cidade. Isso aconteceu na Alemanha no inicio do século 19 e uma rejeição pública dessa proporção seria um grande escândalo e deixaria um grande sentimento de rejeição no jovem Ludwig – e, é claro, para sua mãe e os outros filhos.
Vamos avançar cem anos e examinar a vida de uma das ateístas mais famosas da América – Madalyn Murray O’Hair. Aqui eu cito o livro mais recente de seu filho sobre como era a sua família quando ele era criança (Murray, 1982). O livro começa quando ele tinha oito anos de idade: “Nós raramente fazíamos algo juntos como família. O ódio entre meu avô e minha mãe impedia situações como essas”. (p. 7) Ele diz que não sabia realmente o porquê do ódio de sua mãe pelo pai – mas ela o odiava, pois o capitulo de abertura conta uma briga feia na qual ela tenta matar seu pai com uma faca. Madalyn falhou mais esbravejou: “Eu vou vê-lo morto. Eu ainda te pego. Eu vou pisar na sua cova!”
Qualquer que fosse a causa do intenso ódio de O’Hair pelo seu pai é claro, no livro, que foi profundo e que remonta a sua infância – ao menos psicológico (e.g.p. 11) e possivelmente abuso físico é uma causa plausível.
Além do abuso, rejeição, ou covardia, uma forma do pai ser seriamente defectivo é simplesmente não estar presente. Muitas crianças, é claro, interpretam a morte de seu pai como um tipo de traição ou ato de deserção. Nesse aspecto é notável que o padrão de um pai morto é tão comum na vida de muitos ateus proeminentes.
Barão d’Holbach (nascido como Paul Henri Thiry), o racionalista francês e provavelmente o primeiro ateu confesso publicamente, ficou órfão aos 13 anos e viveu com seu tio. (De quem ele tomou o nome Holbach). O pai de Bertrand Russel morreu quando ele tinha quatro anos; Nietzsche tinha a mesma idade de Russell quando perdeu seu pai; o pai de Sartre morreu antes de Sartre nascer e Camus tinha um ano quando perdeu seu pai. (As informações bibliográficas foram tiradas de fontes de referência padrão). Obviamente, muito mais evidências podem ser obtidas para a hipótese do “pai defectivo”. Mas as informações já citadas são substanciais; improváveis de serem uma mera coincidência.
A psicologia de como um pai falecido ou não-existente poderia fornecer base emocional para o ateísmo pode não ser clara a primeira vista. Mas se o pai de alguém é ausente ou fraco a ponto de morrer, ou tão indigno a ponto de desertar, então não é difícil colocar os mesmos atributos no Pai celeste.
E por ultimo, há também a experiência precoce de sofrimento, morte, de mal, algumas vezes aliadas à raiva contra Deus por permitir que tais coisas acontecessem. Raiva precoce contra Deus pela perda do pai e o sofrimento subseqüente é ainda outra e diferente psicologia da descrença, mas estreitamente ligada com a teoria do pai defectivo.
Parte dessa psicologia é clara na recente autobiografia de Russell Baker. (Baker, 1982) Russel Baker é um famoso jornalista e escritor comediante do New York Times. Seu pai foi levado para o hospital e morreu subitamente quando Russel tinha cinco anos. Baker chorou e sofreu e falou para a governanta de sua casa, Bessie:
… Pela primeira vez eu pensei seriamente sobre Deus. Entre soluços eu disse a Bessie que se Deus podia fazer coisas como essas às pessoas, então Deus era detestável e eu não precisava dEle.
Bessie me falou sobre a paz no céu e a alegria de estar entre os anjos e a felicidade de saber que meu pai já estava lá. O argumento falhou em aliviar minha ira.
“Deus ama a nós todos como Seus próprios filhos”, Bessie disse.
“Se Deus me ama, por que Ele fez meu pai morrer?”
Bessie disse que eu entenderia algum dia, mas ela estava apenas parcialmente certa. Aquela tarde, apesar de eu não ter conscientemente formulado dessa forma, eu decidi que Deus estava muito menos interessado nas pessoas do que qualquer um em Morrisonville admitiria. Naquele eu decidi que Deus não era confiável.
Após isso eu nunca mais chorei com convicção real, nem esperei muito do Deus de qualquer um além de indiferença, nem amei profundamente sem medo de que isso me custasse uma profunda dor. Aos cinco anos eu me tornei cético…(Growing Up, p. 61).
Concluo lembrando que por mais que existam motivos superficiais que prevaleçam no ateísmo do individuo, os fatores psicológicos profundos e perturbadores ainda estão presentes em muitas instâncias também. Por mais fácil que seja afirmar a hipótese do “pai defectivo”, não podemos esquecer a dificuldade, a dor e a complexidade que estão por trás de cada caso individual. E para aquele cujo ateísmo foi condicionado por um pai que o rejeitou, negligenciou, odiou, manipulou ou o abusou física ou sexualmente tem que haver compreensão e compaixão. Certamente uma criança odiar o próprio pai é algo trágico. Apesar de tudo, a criança deseja amar seu pai. Para qualquer descrente cujo ateísmo repousa em tal experiência, o crente, abençoado pelo amor de Deus, deve orar mais especificamente para que no final ambos se encontrem no paraíso. Encontrem e experimentem grande alegria. Se for assim, talvez o ex-ateu experimentará ainda mais alegria do que o crente. Pois, além da felicidade do crente, o ateu ainda terá o incremento de se surpreender rodeado de alegria e, entre todos os lugares, na casa de seu Pai.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Adler, M. (1976). Philosopher at large. New York: Macmillan.
Adler, M. (1980). How to think about God: A guide to the twentieth century pagan. New York: Macmillan.
Baker, R. (1982). Growing up. New York: Congdon & Weed.
Feuerbach, L. (1891/1957). The essence of Christianity. Ed. and abridged by E. G. Waring & F. W. Strothman. New York: Ungar.
Freud, S. (1910/1947). Leonardo da Vinci, New York: Random.
Freud, S. (1927/1961). The future of an illusion. New York: Norton.
Freud S. (1923/1962). The ego and the id. New York: Norton.
Freud S. & Pfister, 0. (1963). Psychoanalysis and faith: The letters of Sigmund Freud and Oskar Pfister. New York: Basic.
Gedo, J. E. & Pollock, G. H. (Eds.). (1967). Freud: The fusion of science and humanism. New York: International University.
Graddy, W.E. (1982, June). The uncrossed bridge. New Oxford Review, 23-24.
Krull, M. (1979). Freud und sein Vater. Munich: Beck. Murray, W.J. (1982). My life without God. Nashville, TN: Nelson.
Vitz, P.C. (1983). Sigmund Freud’s attraction to Christianity: Biographical evidence. Psychoanalysis and Contemporary Thought, 6, 73-183.
Vitz, P.C. (1986). Sigmund Freud’s Christian unconscious. New York: Guilford, in press.
Vitz, P.C. & Gartner, J. (1984a). Christianity and psychoanalysis, part 1: Jesus as the anti-Oedipus. Journal of Psychology and Theology, 12, 4-14.
Vitz, P.C., & Gartner, J. (1984b). Christianity and psychoanalysis, part 2: Jesus the transformer of the super-ego. Journal of Psychology and Theology, 12, 82-89.
NOTAS DE RODAPÉ
¹Address: New York University, Department of Psychology, 6 Washington Place, New York 10003.
²Eu sei que há uma continuação para a história de Adler. Recentemente ouvi falar que há aproximadamente 2 anos atrás Adler se tornou Cristão-Anglicano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário