MAIS UM POUCO e o governo baixa decreto: “Não
se admite a morte de homossexuais no país!”. Homicídio já nem será o caso.
Homossexual nenhum morrerá: nem de causas naturais, nem de doenças genéticas,
nem de acidentes de trânsito, nem por conta de guerras nucleares e, naturalmente, nem por suicídio.
Kaíque Augusto, 17, jogou-se de viaduto do
centro de SP. Triste, profundamente triste. Eu lamento. Chesterton dizia que
"O homem que mata um homem, mata um homem. O homem que se mata, mata todos
os homens". O suicídio é a forma mais teologicamente triste de se matar
alguém. Um homicida mata um outro homem: alguém por quem se nutra ódio,
desprezo, paixão. O suicida mata, ao matar-se a si mesmo, a idéia de que
existam homens.
No entanto, ainda pior do que um suicídio –
banal, cotidiano, anônimo – é o suicídio ideologicamente absorvido. Maria do
Rosário – que não honra o nome uma única vez na vida – se apressa em fazer da
tristeza, palanque: “As circunstâncias do episódio e as condições do corpo da
vítima, segundo relatos dos familiares, indicam que se trata de mais um crime
de ódio e intolerância motivado por homofobia. De acordo com dados do Relatório
de Violência Homofóbica, produzido pela Secretaria de Direitos Humanos...”. Ela
não esperou que as investigações avançassem. Ela queria o cadáver ainda quente
– e vermelho – para disparar suas bravatas e justificar o orçamento.
Governos ruins incomodam os vivos. Governos
horríveis incomodam os vivos e os mortos. O PT não admite que nada viva ou
morra à margem de sua influência. O PT não reconhece nem o 'Campo Santo'. “Que
os mortos enterrem seus mortos”, no Brasil, já vai se tornando privilégio.
20 de
Janeiro
JEAN WYLLYS, o deputado gay, líder da bancada
gay, que defende as causas gays, quer agora criar ou legitimar a torcida gay,
no futebol. Ele só pensa naquilo. Aliás: ele só pensa naquilo com o meu
dinheiro. Com o seu dinheiro.
Para o nobre representante dos gays, faltam
gays nos estádios, nos gramados, nos vestiários, nas cadeiras numeradas, nos
camarotes, na barraca do cachorro-quente. Faltam cambistas gays, dirigentes
gays, centroavantes gays, meias-armadores gays, guarda-metas gays, corneteiros
gays, gandulas gays e, muito naturalmente, massagistas gays. É com isso que ele
se preocupa.
O mundo queima à volta, as crianças queimam à volta, mas ele está
mesmo preocupado porque “As
torcidas organizadas são homofóbicas. Para ser homofóbico, não precisa
matar um gay. Basta mostrar e exercitar o preconceito que está
arraigado”.
Então o
preconceito não precisa ser nem violento ou explícito, basta estar “arraigado”
e ser “exercitado”. É o preconceito sutil, olha que perigo. O homofóbico é tão,
mas tão sutil que a homofobia está lá, arraigada, pedindo para sair, para dar
às caras, para ver a luz do dia, coitada, e o homofóbico cheio de sutileza não
permite.
Eu, sinceramente, não sei bem se tenho
arraigada em mim a homofobia de que ele fala, mas estou certo de uma coisa:
tenho preconceito nada arraigado contra patifes contumazes. Especialmente
aqueles que “exercitam” suas estupidezes com o meu dinheiro. Imagina na Copa.
17 de
Janeiro
DETESTO (e desprezo) ajuntamentos. Dizer que
são jovens da periferia, me desculpem os comovidos, não comove. O problema não
é que os jovens venham da periferia. Eles sempre puderam vir, oras. E eu venho
da periferia, mas nunca me ocorreu combinar com mais alguns milhares de
barbudos amistoso encontro seja onde for.
O problema é que sessenta, seiscentos, seis
mil dos tais jovens da periferia venham todos de uma vez, para o mesmíssimo
local, sabe-se lá com quais intenções – as alegadas e as não alegadas – sob a
batuta de algum sabujo fazendo vezes de sociólogo.
Há pouco passei por uma aglomeração dessas,
relativamente pequena. Mas ainda assim: uns bebem, outros dão tapas nos carros
que passam, alguns não pretendem permitir que os carros passem, enquanto
aqueles fumam qualquer coisa suspeita e vocês sabem o que mais. Há quem veja
alguma sociologia vagabunda, travestida de conflito de classes. Professores da
USP estão aí para isso mesmo, e não os culpo. Se não fizessem nem isso, fariam
o quê?
Mas não há classes, ali. Não há rigorosamente
nada. Há, isto sim, os sessenta, os seiscentos, os seis mil jovens da periferia
aglomerados, personagens de uma narrativa na qual eles não se reconhecem. Não
foi um dos representantes do “rolezinho” quem disse: “Nós queremos consumir”?
Pois bem, a ironia é esta: “Pobre gosta de luxo. Quem gosta de pobreza é
intelectual”, dizia, montado na razão, Joãozinho Trinta. Os tais jovens da
periferia, para desespero dos ideólogos, não querem ideologia. Querem
capitalismo. Selvagem, se preciso. O que houver à mão.
11 de Janeiro
O BRASIL é um país único. Ainda bem.
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Comentário do editor-chefe deste blog: ROLEZINHO É TROMBADINHA ATRÁS DE SEU ROLEXIZINHO.