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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Edmund Husserl: vida e obra

Todo o empenho de Husserl irá dirigir-se no sentido de eliminar a interdição que Kant estabelecera em relação à intuição intelectual.

Edmund Husserl (1859/1938) nasceu na Moravia e estudou matemática em Viena. Sofreu marcante influência de Franz Brentano (1883/1917), grande estudioso de Aristóteles e da Escolástica, empenhado na recuperação da perspectiva transcendente*. Husserl iria tentá-lo buscando um caminho próprio. Depois de ensinar em diversas Universidades, fixou-se na de Friburgo, Alemanha, em 1916, cátedra a partir da qual conseguiu irradiar sua proposta filosófica que passaria à história com o nome de fenomenologia.


Edmund Husserl

Costuma-se dividir a evolução de Husserl em fases, decorrentes sobretudo da mudança de propósito. Inicialmente, buscava apenas encontrar fundamentos filosóficos para a matemática, o que acabaria levando-o a criticar a psicologia empírica e a buscar uma espécie de “psicologia pura”. Mais tarde, tratou de conceber um sistema filosófico que teria por objeto a investigação do que chamou de “terceiro reino”, o das essências (o primeiro seria constituído pelos fenômenos naturais e o segundo pelos psíquicos), projeto que muito justamente foi aproximado do platonismo.




Todo o empenho de Husserl irá dirigir-se no sentido de eliminar a interdição que Kant estabelecera em relação à intuição intelectual. Como se sabe, para o filósofo de Koenigsberg, a única intuição possível era a sensível, assegurada pelo espaço e pelo tempo, que entendia como formas "a priori" da sensibilidade, isto é, livres construções do espírito, que não proviriam da experiência. Aquela interdição destinava-se a invalidar o estabelecimento de cadeias sucessivas, a partir de fato observado, que levasse questões que, a seu ver, não poderiam ser decididas racionalmente, a exemplo da existência de Deus ou a sobrevivência da alma.

Husserl tentou primeiro uma lógica pura, a seguir uma fenomenologia descritiva e, finalmente, a fenomenologia pura. A consciência é intencional, está “voltada para”. O fenômeno de que se ocupa corresponde a uma vivência subjetiva. Para alcançar a pureza requerida, o mundo em seu conjunto deve ser colocado entre parêntesis (o que foi chamado pelos opositores de “artifício tipográfico”). Para tipificar essa investigação, ressuscitou várias categorias gregas presentes á Escolástica, mas abandonadas pela Filosofia Moderna (epoquê, noema, etc.) Seu propósito consistia também em elaborar ontologias regionais, que seriam o elemento ordenador das diversas esferas do real, a partir da identificação das essências (categorias essenciais). O certo, entretanto, é que não conseguiu a pretensão de criar uma nova e sólida base para a perspectiva transcendente.

Husserl foi um trabalhador incansável. Depois de sua morte, temerosos da sobrevivência do seu acervo sob o nazismo, alguns discípulos conseguiram retirá-lo da Alemanha e levá-lo para Louvaina, Bélgica, onde se criou o Arquivo Husserl, responsável pela edição de sua monumental obra. O que publicou em vida, contudo, permite perfeitamente compreender o sentido de sua demarche, notadamente Investigações lógicas (1900-1901; 2ª edição, 1913) e Idéias relativas a uma fenomenologia pura (1913), habitualmente citada como Idéas-I, visto ter sido continuada pelos discípulos com base nos textos preservados no Arquivo mencionado.(Ver também KANT, ImmanuelSer e Tempo, de Martin Heidegger).

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* Perspectiva filosófica corresponde ao ponto de vista último a partir do qual o pensador situa-se diante da realidade. Para a perspectiva transcendente, esta última não se sustenta por si mesma, requerendo suporte externo, que, para a Escolástica, seria diretamente Deus. A Filosofia Moderna recusou essa perspectiva, buscando ater-se aos limites da experiência humana.

Retirado deste site: http://www.videeditorial.com.br/dicionario-obras-basicas-da-cultura-ocidental/f-g-h-i/husserl-edmund.html

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Melhor descrição do pensamento de Edmund Husserl: O pensamento de Husserl parte da necessidade de constituir um saber absolutamente rigoroso, que sirva de modelo e fundamento a todo e qualquer conhecimento. Mesmo a matemática e a física, ciências consideradas rigorosas, uma vez que possuem princípios necessários e fundamentados, não são, contudo, capazes de apreender seu próprio fundamento.

Segundo Husserl, somente a filosofia, compreendida enquanto ciência absolutamente rigorosa, pode fornecer a si mesma e às demais ciências uma possibilidade real de fundamentação. A filosofia, a fim de realizar tal tarefa, deve prescindir dos dados empíricos do conhecimento prático, encontrando acesso à evidência plena a partir de uma apreensão da idealidade transcendente.


Surge, assim, o método fenomenológico, no intuito de fornecer um conhecimento que fundamente de modo essencial toda particularização da realidade.

Trata-se, em princípio, de escapar da dicotomia, operada pelas doutrinas psicologistas, entre sujeito e objeto. Para Husserl, a realidade se estrutura como fenômeno, a partir de uma dupla polaridade. Por um lado, a consciência deve ser pensada desde sua característica primeira, a intencionalidade; ao invés de existir como um ente determinado, a consciência é pura atividade.

Esta, por sua vez, caracteriza-se como um “ir ao encontro”, de modo que não se pode falar de consciência sem especificar “de que” a consciência trata, sem especificar isto a que ela, constantemente, se remete. Simultaneamente, não se pode falar em objetos destituídos de qualquer apreensão ou relação a uma consciência.

Deste modo, a fenomenologia é um método centrado na consciência, esta compreendida desde seus dois pólos: a consciência enquanto movimento para um objeto, denominada por Husserl noesis; e o objeto que, a cada vez, é visado pela consciência, chamado noema.

O modo de apreensão, pela noesis, de um determinado noema, se dá de modo sempre e necessariamente particularizado. Um fenômeno constitui-se sempre como uma perspectiva, um determinado recorte na estrutura da consciência. É preciso encontrar uma atitude que transcenda o plano puramente fenomênico, de modo a fornecer o fundamento totalizador da consciência, de forma que se possa alcançar o princípio constituidor de uma ciência absolutamente rigorosa.

É necessário operar uma suspensão ou redução (Husserl utiliza a palavra grega epoché) que visa pôr entre parêntesis toda referência ao mundo exterior, toda crença em sua realidade, características do conhecimento natural. Através desta redução, não somente o mundo, mas sua própria apreensão por um sujeito cognoscente ficam apartadas.

Este procedimento é, igualmente, denominado redução transcendental; o que ele torna manifesto é a estrutura necessária e transcendente da consciência, capaz de apreender, em seu caráter noético-noemático, essências ou idéias puras. Deste modo, as coisas se revelam em sua idealidade, tornando-se passíveis de apreensão e definição completas pela consciência.

Simultaneamente, o eu se revela em sua estrutura transcendental, como ego puro; ele é a vivência ou permanência transcendental, que perpassa e dá sentido a todos os momentos vividos perspectivisticamente.



Fonte: http://urs.bira.nom.br/autor/alemanha/edmund_husserl.htm

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